Isac Miola e Vilma Zotti tem sua propriedade na Linha Ibiaçá e tem uma variedade de aproximadamente 300 sementes, além de ramas.
Foto: Arquivo Pessoal
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Dentro da propriedade de Isac Miola e Vilma Zotti, na Linha Ibiaça, em Dois Vizinhos, está um dos maiores museus de sementes e ramas do Brasil. Eles conservam mais de 300 variedades de sementes de feijão, milho, arroz, amendoins e ervilhas além de ramas de batatas e mandiocas, entre outras. “Só de feijão, eu tenho 137 variedades, uns 40 de corda, que trepam e uns 90 e tantos que são baixos, normais. Todos são todos comestíveis, os de corda são mais para salada, as favas, os baixos são os que mais conhecemos, alguns servem mais para broto. Só de feijão cavalo eu tenho quatro variedades, com quatro cores diferentes”, resumiu Isac em entrevista para a Rádio Educadora.
O objetivo é deixar para as futuras gerações essas variedades e a história do casal com conservação de sementes começou em 2004. “A gente nem pensava nisso, mas fomos convidados a participar da 2ª festa regional das sementes que estava acontecendo em Francisco Beltrão. Levamos um pouco de semente que tínhamos e trouxemos um monte para casa. Gostei disso e comecei a perseguir esses eventos, até me tornar um guardião de sementes”, explicou Miola.
Evolução
O produtor destacou que a produção de sementes, no passado, era dessa forma, mas as variedades modificadas geneticamente estão ganhando cada vez mais espaço. “O sistema que está em vigor foi adotado pela grande maioria, que considera o que a gente faz atrasado. De uns 40, 50 anos, as coisas mudaram de um jeito que não tem mais volta. No começo, a gente até chegou a usar milho híbrido na propriedade, não transgênico, e pagava quatro sacos de milho para 40 quilos de semente, mas hoje tem que pagar 80 sacos de milho para comprar os mesmos 40 quilos de semente. O pessoal não percebeu ainda essa exploração. Nesse cenário, eu sei que o que estou produzindo, posso consumir sem problema nenhum, de saúde, de nada”, completou.
Propriedade pequena que recebe muitas visitas
Mesmo num terreno bastante acidentado, o produtor conseguiu organizar essa grande produção de sementes e hoje é referência nacional e, neste cenário, recebe comitivas de visitantes constantemente. “Já foram mais de 30 ônibus lá, de pessoas que vieram de todos os setores. No começo, a Cresol levava todos os agentes. Aí veio a UTFPR que começou a trazer os alunos, aí o professor Joel, que é de agronomia, na matéria de renovações de recursos genéticos, já levou mais de 15 turmas de alunos nos visitar. Agora, o professor Alexandre acompanha a ‘Casa da Semente’, com orientação e colaborando com materiais. Recebemos também o pessoal do Movimento dos Sem terra (MST), de Quedas do Iguaçu, uma delegação da Bélgica, uma da América Central, do México, América do Sul, a professora Bernadete já levou alunos do João Paulo II, do Colégio do Pio X, de São Jorge D’Oeste, além do São Francisco do Bandeira”, explica o produtor.
Armazenamento
Com tantas variedades, o produtor encontra uma dificuldade de armazenamento que já está sendo resolvida. “Estamos sendo auxiliados pelo pessoal da UTFPR, esperando um medidor de umidade que é o que a gente precisa para ter certeza da qualidade das sementes. Eles vão trazer também os reagentes para fazer teste de germinação, que daí conseguimos garantir as sementes. Como armazenamos em litros pet, às vezes, a umidade pode ficar um pouco alta e pode perder, mas é difícil. O pessoal procura a maioria das sementes porque já estão quase extintas”, acrescenta.
Isac Miola é apoiado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Dois Vizinhos, Cresol, Assessoar e UTFPR. “Eles nos ajudam com transporte, alimentação, hospedagem quando vamos para seis ou oito feiras todos os anos. É a Assessoar que nos ajuda com o custeio e a UTFPR nos ajuda com o conhecimento, materiais, agora também com embalagens, porque estamos montando um mini-secadeira, além dos banners, faixas, que estão nos ajudando bastante”.
“Guardiões da semente”
O casal duovizinhense faz parte de um grupo de aproximadamente 90 guardiões de sementes do Brasil. “A gente conversa bastante pelo celular, o pessoal posta o que tem, a gente também. Aqui na região eu estou sozinho, mas temos outros guardiões perto. O que a gente ganha com isso não é tanto o financeiro, a gente precisa, mas não é o nosso objetivo, é conhecimento, oportunidade de sair, participar das feiras, novas amizades, a gente troca, vende e compra dos outros as sementes. Hoje, o objetivo é isso aí, não adianta só o financeiro”, conclui Isac.
Vilma Zotti elogiou o empenho do companheiro na conservação de sementes. “Eu ajudo na enxada, para carpir, mas só em roda da casa. Eu quebrei o fêmur esses tempos, aí dói, mas eu me viro com tudo o que aparecer em casa. Ele trabalha demais nas lavouras. Não para. A gente come tudo da lavoura, feijão, arroz, mandioca, tudo da lavoura. Eu me viro com a casa, as pessoas que vêm comprar sementes e eu faço a venda. A gente vende pacote de 100 gramas e a qualidade é bem boa, o que plantar nasce”, conclui.
Fonte: Portal Educadora com Jornal de Beltrão.