''A crise dá sentido ao empreendedorismo'', diz Geraldo Rufino

Ele palestrou no encerramento da 11ª Semana Empresarial de Dois Vizinhos.

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  • 27 de Maio de 2019
  • Foto: Alexandre Baggio/ JdeB

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A Associação Empresarial de Dois Vizinhos (Acedv/CDL) fez algumas alterações no formato da Semana Empresarial de 2019. Uma delas foi que a palestra, que antes marcava a abertura, passou para o encerramento. Neste ano, o empreendedor Geraldo Rufino fez a palestra ‘O catador dos sonhos’, o visionário que começou como catador de latinhas e hoje tem uma empresa que fatura mais de R$ 50 milhões por ano. Ele falou sobre sua história de seis falências, recomeços e como manter o otimismo. Confira a entrevista que ele concedeu para o Jornal de Beltrão. 

JdeB – Muita gente deve se identificar com sua história porque muitos empreendedores começam, quebram, recomeçam, dão murro em ponta de faca, enfim, até acertar, na persistência. O segredo é nunca perder o otimismo?

Geraldo Rufino – O brasileiro tem duas coisas que é dele: a resiliência e o empreendedorismo. O brasileiro é empreendedor nato, então, qual a diferença entre eu e outro brasileiro qualquer? É que muitas pessoas desistem. Ele não deixou de ser resiliente, só deixou de acreditar, de ter esperança. O cara fica terceirizando a esperança dele num governo, num parceiro, num terceiro, mas a esperança tem que ser sua, o sonho é seu. O que eu gosto de mostrar para as pessoas é que eu não tenho nada de especial, eu sou igual a todos, a diferença é simples, eu sempre fiz o simples, o óbvio, o prático, mas a diferença é o dia-a-dia. Quando você acredita, reforça a espiritualidade, não estou falando de religião, você precisa acreditar em você. À medida que você tem uma crença, uma fé, você começa a renovar a esperança e você vai. Essa coisa que eu gosto de mostrar é que o universo está todo pronto, você pode copiar, então que eu sirva de exemplo para outras pessoas que também estão na favela como eu estava, que estão na periferia, com dificuldades e percebam que ele está no melhor País do mundo, no mais empreendedor, onde as pessoas têm uma mistura fantástica, todo mundo é diferente e, consequentemente, você se enquadra em qualquer lugar. Ele só precisa alinhar a forma dele acreditar, os pensamentos dele. Parar de ficar se preocupando com ‘mimimi’ de discriminação, de racismo, homofobia, cara, você é igual, quando você acredita em você, os outros passam acreditar e aí você cria a oportunidade. As pessoas falam: só preciso de oportunidade. Quando você quer, você gera sua própria oportunidade.

O senhor, com certeza, quando jovem, não sonhava em trabalhar com peças de veículos, mas foi buscando oportunidades, errando e vendo que ali poderia ganhar a vida, dar certo. Esse é outro exemplo, que você, às vezes, não realiza seu sonho, mas pode ser feliz.

Para mim, meu melhor sonho era viver. Era ter oportunidade todos os dias, o privilégio de ver uma luz, todas as manhãs, no meu barraco, sempre me fazia agradecer. Eu mudei de endereço, mas não mudei o comportamento. Meu sonho é todos os dias ter mais uma oportunidade e aproveitar o máximo possível para fazer algo para alguém. Meu sonho é uma constante e não faz diferença o que eu me transformei depois. Eu catava latinha, agora tenho a maior empresa de reciclagem automotiva, mas eu costumo dizer que só mudou o tamanho da lata. Os meus sonhos são os mesmos, meus gostos são os mesmos, meu carinho pelas pessoas, a gratidão é a mesma e a minha espiritualidade só aumentou, mas eu sou o mesmo ser humano. Eu sou o criador de tudo: dos problemas, do dinheiro, dos relacionamentos, então, não tenho o que reclamar, porque eu crio tudo e talvez isso tenha me fortalecido na base, quando eu entendi que o problema era meu, eu o crio e ele é menor que eu, eu resolvo o problema. Só tem outro detalhe: ninguém faz nada sozinho, você precisa do outro, e para que isso aconteça e você não se afaste de todo mundo, você precisa aprender a conviver com os diferentes, com as diferenças.

Dentro da sua empresa atual, o senhor não sabe o que é crise. Tem um crescimento sólido. Esse seu otimismo, não pensar no externo, focar no objetivo faz com que os resultados aconteçam de forma mais satisfatória?

Fé, ou você tem ou você tem. Meia fé não funciona. Você tem que acreditar de verdade e, como eu acredito de verdade, eu entendo que o dinheiro é uma consequência. Eu fiquei sem dinheiro seis vezes, quebrei, mas nunca fiquei menor porque não perdi valores, a fé. O dinheiro não pode ser seu guia, tem que ser seu acompanhante, uma consequência e não a direção. Eu sempre ganhei dinheiro por consequência e como eu nasci primeiro e o dinheiro veio depois, ele é menor que eu. Quando você fica sem dinheiro, isso não pode ser um problema. A crise é só quando o dinheiro muda de lugar. Isso vai acontecer a vida inteira. Não é que eu não acredito na crise, eu reconheço ela, só não vejo como um problema. Eu entendo que ela faz parte do processo de todo mundo que precisa buscar um sonho, um objetivo, ter algum propósito. A crise precisa estar lá para saber que você não pode dar ré, tem que ir pra frente. É um motivador para que, todos os dias, as pessoas saiam de manhã e busquem fazer diferente, tentar ser protagonista. Se não tiver crise, você sai de casa pra que? Se nada mudou, nada vai mudar, se não precisa fazer nada, brigar, lutar, não precisa ser resiliente, sua vida não tem sentido. A crise dá sentido ao empreendedorismo, dá sentido à vida, dá sentido a produzir alguma coisa e deixar para a próxima geração. Se não tiver crise, você nem precisa ser protagonista, ter legado, não precisa fazer nada, você só vive. Crise. Deram um nome para uma coisa como se fosse um bicho papão, mas é uma motivação para que o mundo gire.

Fonte: Alenxadre Baggio/ Jornal de Beltrão