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Cardiologista Leonardo Precoma alerta para riscos do pós-Covid

A doença inflamatória prejudica, além do pulmão, rins e coração e pode causar, depois da recuperação, trombose, AVC’s e outras doenças.

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  • 06 de Julho de 2021
  • Foto: Reprodução Facebook

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A luta contra o coronavírus tem passado, para muitos pacientes, dos 10 ou 12 dias. Em alguns casos, a doença está deixando sequelas e exigindo acompanhamento dos médicos. O alerta foi feito pelo cardiologista Leonardo Precoma, que atende na Clínica Incore, em Dois Vizinhos. Ele destacou, em entrevista para a jornalista Renata Pagnoncelli da Rádio Educadora de Dois Vizinhos, algumas sequelas que está percebendo nos seus pacientes. Confira trechos da entrevista:

Renata Pagnoncelli - Qual foi a mudança mais sensível na sua rotina e análises cardiológicas nos últimos meses?

Leonardo Precoma – Claro que o assunto Covid ainda não passou, mas estamos vendo que o nosso foco na cardiologia e até medicina em geral é que já passamos pela fase de maior transmissão, está começando uma vacinação em massa e estamos percebendo que alguns pacientes estão tendo sequelas muito graves do coronavírus, que chamamos de síndrome Pós-Covid. A gente sabe que essa doença tem aquela fase de sintomas, febre, a fadiga até o sétimo dia e tem pacientes que desenvolvem a forma grave, que seria a falta de ar e um componente mais inflamatório. Os estudos estão mostrando que é uma síndrome mais inflamatória do organismo, do pulmão, que é o lugar de entrada do vírus e, principalmente, do endotélio, que são os vasos do nosso corpo. Na prática, percebemos, na clínica, as complicações. Tem alguns casos que estou pegando até com trombose. Então, como funciona o coronavírus? A partir do 10º dia, a resposta é mais inflamatória. Ela atinge o pulmão e vai para organismo de modo geral, uma resposta mais sistêmica. A gente pode ver esses pacientes que evoluem mal com alguns exames de marcadores inflamatórios, interleucina, d-dímero, o paciente tem muita linfopenia, a troponina aumenta e o próprio vírus entra no organismo e faz a injúria dos órgãos. No coração, principalmente, ele faz uma síndrome chamada miocardite que é a inflamação do músculo do coração. Isso é um marcador direto de gravidade. A gente vê pacientes também com resposta imunológica muito exacerbada, tem sintomas, tanto é que está bem popular, já estávamos utilizando desde o ano passado o tocilizumabe, um anticorpo monoclonal, utilizado para artrite reumatoide, que popularmente as pessoas chamaram de “vacina” pois é uma injeção.  O que faz? Diminui a resposta inflamatória do corpo. Tanto é que tem gente já superfaturando a medicação que está escassa no mercado.

Renata Pagnoncelli – O assunto é longo, vamos tentar explorar ao máximo. A pessoa contraiu covid, passou por todos os processos, já está em casa há alguns dias, o que precisa ficar atento?

Leonardo Precoma – Principalmente pacientes que receberam alta, tem muita gente que não teve muito sintoma, mas começa a ter aquela persistência de astenia, o que é isso? Fraqueza generalizada, uma tosse que não melhora, a falta de ar constante, uma recuperação da síndrome de covid muito devagar, então isso gera sinais de alerta. As sequelas ficam no pulmão e no coração.

Renata Pagnoncelli – A gente vê assuntos relacionados a inflamações, tromboses, todo o aspecto de tratamento novo e nosso organismo aprendendo a responder e a ciência querendo acompanhar. Como faz para correlacionar tudo isso e gerar bem estar?

Leonardo Precoma – Temos estudos brasileiros, principalmente onde eu fiz a residência, em São Paulo, no Incor, que eles estão vendo que a mortalidade aumentou muito em pacientes que tiveram trombose. A gente viu que a covid está sendo uma doença inflamatória. O vaso do nosso corpo fica inflamado e tem algumas alterações. Em torno de 50%, 60% que tiveram o coração afetado, vão ter fibrilação atrial, uma arritmia. O que eu resumo disso? O vírus entra pelo pulmão e ataca diversos órgãos, principalmente, pulmão, rim e coração. Por isso, temos muitas sequelas. Até tem um estudo chinês, que aponta que até depois de seis meses que o paciente contraiu covid ele tem sequelas pulmonares e cardíacas. Já se teve notícias de mortes com trombose tardias. Até em Francisco Beltrão, um menino teve um AVC 90 dias depois da covid até por causa disso: o vírus atinge o endotélio, que é a capinha do vaso, ela inflama e gera coágulo.

Renata Pagnoncelli – Mas é possível, quando você tem o diagnóstico positivo, tomar medidas para prever a curto, médio e longo prazo?

Leonardo Precoma – Com certeza, até por isso, hoje em dia, estamos discutindo muito entre os colegas sobre o tratamento personalizado. Claro que, no começo, faz-se o tratamento adequado, interna o paciente, mas depois, cerca de 5% dos pacientes vão ter sequelas em longo prazo. O que temos que fazer? Tem vários exames que podemos fazer da parte cardíaca, seja um raio-x, para ver se tem sequela, teste de caminhada e, se tiver sintomas, faz exames próprios de coração, como ecocardiograma e teste ergométrico nos pacientes mais graves que tem muita fadiga. Até tem uma frase bem pesada que eu li em um artigo europeu e tem a ver com a cardiologia e fala assim: a pandemia devastou nossas vidas de tantas maneiras que acreditamos, prontamente, que também deixa cicatrizes literais em nossos corações. Isso é dito por quê? Porque o vírus pode afetar de uma maneira que deixa cicatrizes e sequelas no coração, além dos problemas da parte neurológica. Temos muitos pacientes ansiedade ou depressão, por causa do vírus, mas também por todo o contexto. Quantos pacientes que ficaram um ano em casa e estavam acostumados com uma rotina de tomar um chimarrão com os amigos no interior e aí agora não podem mais fazer isso. 

Renata Pagnoncelli – Você está falando de todos os aspectos, medicina, ciência, social, mas até que ponto essa ansiedade pesa na saúde física?

Leonardo Precoma – Não só a situação do Covid, a ansiedade nos deixa sempre no estado de alerta, a gente libera muito cortisol no sangue, temos hormônios de stress e baixa a imunidade. Então uma pessoa que é mais negativa, estressada, ansiosa, tende a ter mais doenças mesmo do que uma pessoa otimista. A ciência explica isso por causa da liberação constante de hormônios de stress.

Fonte: Jornal de Beltrão