Cogumelos Vale do Sol são produzidos (quase) no centro de Dois Vizinhos

A propriedade de Elcy e Lucimar Zonin fica muito próxima a cidade e, há um ano, o casal passou a investir na produção de cogumelos paris.

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  • 16 de Agosto de 2021
  • Foto: Jornal de Beltrão

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No começo de 2020, Lucimar Zonin trabalhava fazendo fretes para Dois Vizinhos e a região. Descontente no trabalho, ele conversava com a esposa Elcy sobre possíveis novos rumos profissionais. Ele tinha comido cogumelo, até então, apena uma vez e o pior: não tinha gostado. Mesmo assim teve a ideia de começar a produzir o fungo. A esposa achou a ideia maluca, mas passou a pesquisar pessoas que pudessem ajudar nessa tarefa. “Eu pensei que morango e alface, por exemplo, todo mundo plantava. Vaca de leite nós não temos espaço. Eu tinha comido uma vez cogumelo que meu irmão trouxe de Porto Alegre e não gostei, aí disse pra gente produzir cogumelos. A Elcy brincou que eu nem comia, mas eu falei pra gente vender para quem comia. Aí ela começou a pesquisar na internet, um abençoado de Curitiba me respondeu e fomos atrás dele”, resumiu Lucimar.

A propriedade do casal fica a pouco mais de um quilômetro do centro da cidade e recebeu uma estufa que comporta até 6 mil quilos de substrato (que podem produzir até 1,2 mil quilos num ciclo). Como somente os dois trabalham, o objetivo é dividir a estrutura para ter uma produção constante: enquanto um espaço está no vazio sanitário, outro produz. “Aí sempre vamos poder produzir in natura, não só em conserva que tem um ano de duração. Já estamos desenhando o projeto, ele é viável segundo o consultor, acreditamos que podemos mudar isso em breve”, completou Elcy. Confira a entrevista completa abaixo:

 

JdeB – Como é o ciclo de produção dos cogumelos paris?

Lucimar Zonin - A gente pega incubado em Curitiba, trazemos, colocamos na estufa, ele dorme e no outro dia a gente abre a embalagem e começa colocar a terra especial para ele se desenvolver. Depois que colocou a terra, são cerca de 15 dias para começar a produzir. A temperatura média na estufa deve ser de 16 graus, mas o frio não interfere nisso, o problema é mais no calor. No inverno, no entanto, ao invés de começar a produzir em 15 dias, pode levar 20 dias, mas quando começa, ele desenvolve. Ainda mais agora que tivemos frio e calor. Ontem, colhemos e eles estavam pequenos. Hoje já estavam bem maiores.

Elcy Zonin – O que afeta ele não é o clima que está hoje, é o de dois, três dias atrás. Mesmo tendo climatização na estufa você não consegue controlar que ele fique 100% por causa da nossa região. O técnico disse que é uma região bem diferente da dele (próximo a Curitiba). Ele consegue programar colheita. Nós colhemos, depois fazemos a venda porque não sabemos como vai estar.

JdeB – Como vocês chegaram até esse técnico?

Elcy Zonin – Comecei a pesquisar quando decidimos produzir. Ele me respondeu e falou que cultivava e dava o curso. Ele até relutou no começo, não queria vir para cá, nem sabia onde ficava Dois Vizinhos e aí fomos para lá.

Lucimar Zonin - Ele conheceu nossa propriedade, deu assessoria para construir a estufa, veio ver depois de pronta. Depois, na primeira vez que fomos buscar o fungo ele veio junto, na primeira colheita veio mostrar como fazia o manuseio, as conservas. Ele ensinou tudo, passo a passo. Aí fomos também atrás das liberações da vigilância sanitária e outros órgãos locais, pedimos auxílio aos técnicos do Emater, pegamos uma nutricionista para fazer a tabela do rotulo, tudo certinho. Mesmo assim, cada lote é uma novidade. Esse foi o primeiro que pegou bastante frio, por exemplo.

JdeB – Vocês produzem champignon?

Elcy Zonin - Sim, somente o champignon.

JdeB – Como que esses cogumelos vem de Curitiba?

Elcy Zonin – São blocos que colocamos na nossa estufa. O caminhão sai daqui higienizado, chegando lá temos que higienizar de novo. Tá resfriado, chega aqui e vai direto para a estufa. No outro dia, quando eles se ambientam, a gente vai e mexe no pacote para abrir. Lá dentro é bem complicado e minucioso para entrar. Amanhã, por exemplo, vamos organizar para fazer conserva. Eu preciso esterilizar a cozinha, todos os vidros que vamos usar, coloca tudo lá dentro. Se eu não usar, não fica dentro da cozinha. Depois de usar, higieniza e tira da cozinha. Não fica nada. Isso tudo pensando na qualidade do produto.

Lucimar Zonin -  Ele é incubado numa semente de trigo, o bloco tem essa semente com palha de trigo ou arroz. Eles misturam, cozinham a palha, porque não pode ter outros fungos, misturam numa máquina e incubam. Quando coloca no pacote, começa a desenvolver. Ele vai soltando toda a raiz num ciclo de até 40 dias. A raiz cresce, fica ali e só produz o cogumelo quando coloca a terra, que também é especial.

JdeB – E vocês organizaram como a produção?

Lucimar Zonin – Estamos no nosso sexto lote.  A gente aproveita picos, limpa tudo e programa outro. A gente traz incubado, demora 15 dias para começar a produzir e fica entre 25 e 30 dias produzindo. Colhendo todo dia. Limpamos a estufa, tiramos todo o substrato usado, que vira adubo, aí lavamos tudo com água sanitária, o único produto que vai lá dentro. Lava tudo, do teto ao chão, as prateleiras e deixamos a estufa 15 dias fechada no vazio sanitário.

Elcy – É uma produção orgânica, por isso a gente faz o vazio sanitário em todos os lotes.

JdeB – E a comercialização, como está sendo feita?

Elcy Zonin – Ontem, a gente desceu, não sabia o que ia colher e conseguimos 40 bandejas. Aí chegamos aqui e começamos a chamar os clientes via WhatsApp e, num instante, vedemos tudo. Ontem vendemos in natura. Hoje eu tinha um pedido para entregar 11h e chegamos lá e começamos a colher os maiores e já deixamos separados para fazer a conserva de balde à noite, que ele vai cortadinho. Aí ele fica hidratando, de seis a oito horas. Ai no fim da tarde vamos começar o processo da conserva, eu vou limpando tudo, o Lucimar vai lavar todos, passa em duas, três águas, vai para a panela, cozinha por pouco tempo, dá o choque térmico, espera esfriar aí coloca no balde, pesa, coloca a salmoura e tudo mais.

JdeB – Vocês vendem para restaurante também?

Lucy Zonin – Sim, já temos vários clientes.

JdeB – Agora tu come champignon, Lucimar?

Lucimar Zonin – Agora sim. Nosso champignon não tem nada a ver com o que compra no mercado. Como ele é natural, ele acaba tendo um gosto diferente. Tu morde e tem outra textura. É mais firme, parece um pepino, um palmito.

JdeB – E vocês estão gostando de trabalhar com a cultura de cogumelo?

Elcy Zonin – Sim, é uma novidade. Cada vez que a gente desce lá embaixo é uma surpresa. É muito interessante.

Lucimar Zonin – Ele não é uma cultura estressante, bom de trabalhar. É minucioso, mas tu nem vê o tempo passar. Você entra lá, tá quieto, a gente liga uma rádio e fica trabalhando.

JdeB – E, recentemente, vocês tiveram um problema por causa do coronavírus?

Elcy Zonin – Sim, perdemos um lote. Pegou bem no início da colheita, estava tudo pronto, começando a produzir. Não teve o que fazer, eu e ele pegamos covid, não podia ver ninguém. Minha cunhada que sabia ajudar também estava com o vírus, o Lucimar no Hospital. Uns amigos nossos vieram e limparam toda a estufa para mim, desligamos os aparelhos de ar condicionado e deixamos. Graças a Deus ele está bem e voltamos produzindo menos até finalizar a recuperação.

Fonte: Jornal de Beltrão