• Dois Vizinhos - Paraná - Brasil

BOM DIA 107

com

JOÃO PAULO DOS SANTOS

‘Morador do Lago’ é assistido há mais de três anos pelo município

Todas as seis pessoas que vivem nas ruas de Dois Vizinhos recebem acompanhamento.

Image
  • 30 de Novembro de 2021
  • Foto: Assessoria (arquivo)/ Ilustrativa

  • 5882

Uma live feita na manhã de domingo (28), no Facebook, e já excluída pelo usuário, mostrava a situação de um homem, morador de rua em Dois Vizinhos, que residia nas imediações do Lago Dourado. O autor do vídeo fazia críticas ao município dizendo que o homem não recebia suporte da Assistência Social.

Na manhã desta terça-feira (30), em entrevista para a Rádio Educadora, a secretária de assistência social Cátia Bonin e a diretora Rosilei de Godois falaram sobre o caso. O homem, de 63 anos, está sendo acompanhado há mais de três anos. Ele morava no banheiro do Lago Dourado e, inclusive, trancava o bem público para ninguém entrar. Em março deste ano, optou-se pela remoção do homem do local. O Lago Dourado é utilizado por famílias e, principalmente, por crianças. Relatos de usuários diziam que o homem, muitas vezes, era visto apenas com roupas íntimas nas imediações de onde pernoitava.

Ainda na live, o autor mostrava ferimentos no braço do morador de rua dizendo que haviam sido causados na sua retirada, entretanto, ele não está mais no local desde abril. Naquele momento, inclusive, a Assistência Social ofereceu um local para o homem morar e sair da situação indigna que se encontrava, mas ele recusou, principalmente pelo vício com bebidas alcoólicas.

MORADORES DE RUA EM DV

Apesar do caso do ‘morador do lago’ ter viralizado, o município possui, atualmente, seis moradores de rua e todos são assistidos pelo poder público. A assistente social, Rosilei de Godois, explica como é realizado esse trabalho. “A gente tem um serviço de abordagem social e sempre que identificamos qualquer cidadão em situação de rua ou vulnerabilidade ele é abordado, fazemos um levantamento do que levou ele para a rua, o que ele precisa e quais os encaminhamentos possíveis para cada caso. Conhecemos todas e acompanhamos todas aqui em Dois Vizinhos”, disse.

O primeiro trabalho é tentar encontrar os parentes, mas isso acaba sendo difícil, já que, na maioria das vezes, há histórico de problemas e conflitos familiares. “Uma das primeiras ações que fazemos é tentar localizar a família e fazer a mediação para buscar uma reinserção dessa pessoa. A assistência social entende que essa é a nossa função. Que através do vínculo familiar e afetivo, vamos conseguir fazer com que essas pessoas saiam dessa condição. Um fator que nos atrapalha muito é que eles têm uma trajetória de vida com muitos conflitos. Então, quando fazemos a abordagem com a família, nos deparamos com diversas situações que precisam ser reconstruídas e, nessa trajetória também, muitos deles fazem uso de álcool e de outras drogas por muito tempo. Essa dependência química atrapalha todo o processo”, explicou.

O CASO

Há pelo menos três anos, o ‘morador do lago’ recebe o suporte da Assistência Social. Inclusive, foi através do órgão que ele conseguiu receber o auxílio emergencial, mas ele se recusa sair da situação em que se encontra. “Já são mais de três anos que estamos acompanhado esse senhor, mas nos últimos tempos, fizemos um acompanhamento mais próximo porque vai aumentando a idade, ele fica mais vulnerável. Esse caso, em específico, também tem a dependência do álcool. Ele é bastante resistente. Todas as abordagens que fazemos, ofertando até alguns benefícios, porque é uma situação que precisamos ofertar benefícios pela estrutura ineficiente que ele tem, mas ele se recusa a aceitar tratamentos, benefícios, nunca aceitou o que temos a oferecer”, destacou.

A retirada do bem público, onde ele pernoitava, aconteceu ainda no começo do ano com apoio da Polícia Militar e o acompanhamento da Assistência Social. “Ele não tem uma moradia no lago. Ele residia, permanecia, nos fundos de um banheiro. O espaço lá é minúsculo, cabia só ele lá dentro e é lá que ele vivia. Por bastante tempo, a gente vem conversando e fazendo o convencimento que aquele local não é adequado para se viver. Neste ano, fomos mais firmes no sentido de convencer ele e retirar ele de lá. Ele sempre se recusou, a retirada, até pedimos ajuda para fazer isso, porque não tivemos alternativa por ele nunca ter aceitado por livre e espontânea vontade. Precisamos organizar o espaço e fizemos a retirada justamente para que ele não tivesse mais aquele lugar para dormir e que aceitasse um benefício mais digno que daria melhor condição para ele. Isso aconteceu no começo do ano, viemos trabalhando e a retirada de tudo o que ele tinha, que foi, em seguida, reposto com tudo limpo e em condição de uso”, disse.

Na live é dito ainda que os documentos do homem foram queimados, o que de acordo com a Assistência Social, também é mentira, já que nesta terça-feira (30) ele está com toda a sua documentação fazendo uma perícia no INSS. A assistência social fez o encaminhamento ainda em junho para o benefício assistencial na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). “Essa foi outra inverdade que foi dita. Ele tem todos os documentos, foram providenciados, inclusive, pela assistência social. Hoje ele está no INSS e o benefício não foi buscado a partir dessa repercussão. Então, desde junho que temos o encaminhamento, ele fez a perícia médica e hoje, coincidentemente, está fazendo a perícia social de posse de todos os documentos. A gente nunca desiste. Porque sempre pensamos que o ser humano tem vários momentos e fases. Fazemos abordagens semanais com todos os moradores de rua ofertando novamente esses auxílios que são possíveis pela assistência. Oferecendo, principalmente, tratamento porque eles precisam melhorar dessa dependência para que tenham uma vida digna e cuidar deles mesmo”, reforçou.

Para tirar o homem do vício, foram oferecidas várias possibilidades, entre elas, a Casa de Acolhida Renascer. “A internação fica mais a cargo do CAPS, mas temos parceria e um trabalho em conjunto com os órgãos de saúde, não só a Renascer, mas através do SUS, temos várias opções de internação, de clínicas e comunidades terapêuticas que podemos estar encaminhando eles a qualquer momento. Já disponibilizamos também clínicas particulares, clinicas mais especializadas, que seguram por mais tempo, também foi ofertado essa alternativa de tratamento”, disse Rosilei.

A ajuda da comunidade é importante, mas dar dinheiro para um dependente químico nessas condições, nunca é uma boa ideia. “A gente vem hoje, enquanto assistência social, dar um recado para a sociedade. Às vezes, ela auxilia muito no sentido de identificar as pessoas, de ligar para a assistência social, mas, em alguns casos, a forma como eles ajudam, atrapalha um pouco, porque ajuda a pessoa a permanecer naquela condição. Não falando só desse episódio, mas todos os outros. Eles permanecem na rua pelo estímulo da sociedade, que oferta dinheiro e outras coisas e acomoda eles nessa situação. Claro que a sociedade tem um papel nesse sentido, mas encaminhe para a assistência social para que um técnico experiente vá lá, ofereça os benefícios, não se de dinheiro para estimular o uso de uma bebida alcoólica que piora essa situação”, finalizou.

O Assistente Social e psicólogo, Thiago Dambros, explicou como uma pessoa chega na condição de morar na rua. “De uma maneira geral, essas pessoas que estão em situação de rua são pessoas que já romperam vínculo com sua família. São pessoas que não tem rede de suporte de família, amigos ou sociedade e acabam se juntando e criando uma rede de suporte entre eles. No nosso município, o problema principal é a questão do uso de álcool entre essas pessoas. Vale ressaltar que não é que eles começaram a usar álcool porque ficaram sem casa, perderam emprego e estão na rua. Eles estão em situação de rua por conta do histórico de uso de álcool na vida. Esse é um agravante porque a pessoa que faz uso de álcool, muitas vezes, se torna mais agressiva, violenta e irrita as pessoas da sua convivência e a família, apesar de ter vínculos, chega num ponto eu não consegue e, pelos conflitos, acaba deixando essas pessoas que migram para as ruas”, explicou.

Fonte: Portal Educadora