Foz do Chopim protagoniza dois mundos diferentes

De um lado a Vila da Copel com ruas asfaltadas, alamedas arborizadas e com casas de alto padrão. Do outro, a “Vila do Piolho” com ruas de terra cheias de buracos.

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  • 26 de Abril de 2022
  • Foto: Assessoria

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Quem morou em Foz do Chopim, em Cruzeiro do Iguaçu, nas décadas de 1970 e 1980 carrega uma bagagem de boas e más recordações. As histórias se mesclam em dois mundos diferentes: de um lado, a Vila da Copel, arborizada, com ruas asfaltadas e casas de médio e alto padrão ocupadas pelos funcionários da empresa de economia mista na área de geração de energia. Do outro lado, a “Vila do Piolho” pejorativamente conhecida por abrigar pessoas humildes oriundas das construções das barragens de Salto Osório, Salto Santiago e alguns remanescentes da Madeireira Madezzati, que antes de ser desativada gerava dezenas de empregos com um considerável e importante comércio. Nesta terça-feira, 26, o município está completando 29 anos de emancipação político-administrativa.

O início da decadência financeira e até social de Foz do Chopim se deu com o naufrágio da balsa sobre o Rio Iguaçu em 1973, ocasião em que cerca de 100 pessoas perderam a vida nas correntezas das águas caudalosas. Porém, se muitas vidas foram ceifadas por acidentes e mortes violentas, em contrapartida, a esperança e a fé se mantiveram firmes e revigoradas no seio da comunidade cristã, predominantemente católica, motivada pelas Irmãs Franciscanas que estabeleceram ali um pequeno núcleo, formado por duas ou três religiosas, cujo objetivo é educar na fé e na sociedade civil as crianças, os jovens e os adultos de boa vontade. As freiras tinham como superiora uma senhorinha magrinha, simpática e determinada: a piracicabana e célebre irmã Maria Ignez Mazzero, conhecida como “Irmã Marineis”, amada por muitos e odiada por aqueles que buscavam se locupletarem com a miséria dos outros, como fazem os inescrupulosos politiqueiros.

A irmã “Marineis” atuava em várias frentes como catequese, escola, saúde e grupos familiares. Motivando a fé, a oração, a arte e a cultura local, incentivando teatro e música na comunidade. Propôs a criação do Grupo de Jovens Jovens Unidos Por um Ideal Melhor (Jupim), também conhecido como Jovens Unidos do Chopim com mais de 30 integrantes, unindo os dois mundos diferentes, quebrando o paradigma da rivalidade entre “pobres” e “ricos”. Desde então, nivelados por cima, como no texto Bíblico de São Paulo aos Gálatas (Gl 3,26-28), “Vós todos sois filhos de Deus...” Com sua habilidade, simpatia cativava a todos, sempre propondo ações para a criação de um mundo melhor, mais humano e mais justo.

Ali os jovens e suas famílias desenvolviam várias atividades como encenações, celebrações, reflexões, visitas solidárias às famílias carentes e nas reuniões semanais ampliavam os conhecimentos interpessoais comunitários e sociais.

Dentro do grupo surgiu a ideia da Festa do Mamão

Acaso, obra do destino ou desígnio Divino. Ao final de uma reunião dominical com os jovens, Irmã Marineis trouxe-lhes numa travessa de vidro com uma significativa quantidade de docinhos caseiros de mamão que ela mesma colhera do quintal do seu Lucas Kemper e preparara, cuidadosamente, para servir ao grupo. A iguaria agradou tanto que sobrou só a travessa com um pouco de meleca doce. Alguém sugeriu que se fizesse doces de mamão pra vender nas casas e arrecadar fundos buscando ajudar as famílias carentes. A iniciativa foi o que gritou: - que tal fazer uma Festa do Mamão?

A proposta ecoou na mente e no coração dos jovens, tirou-lhes o sossego e logo se transformou em ação. Os próximos passos foram buscar apoio junto aos órgãos competentes, como prefeitura e Governo do Estado, através da Emater, que designou um técnico agrícola para acompanhar o projeto. A ideia disseminou-se no comércio, meios de comunicação e principalmente com os agricultores locais que aprovaram de pronto. A festa foi um grande evento que reuniu muita gente e autoridades municipais e estaduais. No palco, estiveram, entre outras autoridades e artistas, o prefeito José Ramuski Júnior e o secretário estadual da agricultura da época Eugênio Stefanelo. A semente estava plantada e o incentivo semeado. A festa foi um sucesso de público, de organização e movimento. A juventude vibrava pela repercussão do feito.

Infelizmente alguns erros estratégicos e, por falta de orientações técnicas sistemáticas, o sonho de transformar Foz do Chopim em um polo de produção de mamão não prosperou, segundo alguns produtores, a tentativa de melhorar a produção, alguns agricultores inseriram espécimes de mudas incompatíveis, oriundas de outras regiões agrícolas, que agregaram algumas pragas dizimando as plantações. Sem muitas perspectivas locais, os jovens, em sua grande maioria, migraram para outras cidades em busca de seus ideais. Quem ficou, manteve o espírito comunitário e hoje desenvolvem relevantes trabalhos sociais, como ‘Praticando o Bem’ e oficinas em parceria com a UTFPR. “O projeto atua nas áreas de plantas alimentícias, comunicação, artesanato, educação ambiental, técnicas de teatro e ensino de como ingressar na universidade: sonhos e perspectivas”, conta a professora Teresinha Moreira Soares que foi uma das participantes do Jupim.

Por Osmar Vieira, jornalista aposentado e foi morador do distrito de Foz do Chopim.