A cada dia que passa, a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) está deixando de ser um sonho e se tornando realidade em Dois Vizinhos. A estrutura física deve ficar pronta somente em 2024, entretanto, a diretoria da entidade trabalha forte para angariar voluntários e buscar fundos para a edificação da estrutura física. “Nós queríamos concluir até 2023. Acho que se conseguirmos inaugurar até 2024 eu vou ficar muito contente. Não é fácil arrebanhar as verbas. É caro. Já temos cerca de R$ 1,3 milhão, mas para fazer isso temos que buscar, ao menos, mais R$ 1 milhão. Eu sempre enfatizo que, antes de funcionar, a Apac precisa de poder público, voluntários, população e empresários. Isso eu posso dizer que o Rotary Clube Dois Vizinhos já abraçou essa causa. Isso é muito bom. Nessa questão estamos tranquilos”, diz Paulo Violato, presidente da Apac de Dois Vizinhos.

Ele falou sobre a escolha do local para edificar a unidade. “Já tivemos certa polêmica na questão da construção da APAC e, até por isso, em todas as unidades que visitamos, eu busquei perguntar para os vizinhos sobre o que pensavam sobre o sistema e a grande maioria disse que só tinha a agradecer porque a Apac nunca incomodou”, completa.

O chefe de gabinete, Bruno Lima, que também faz parte da diretoria da Apac, falou sobre o sistema. “O método é pensado para restaurar o ser humano no dia a dia da sociedade. A prefeitura, quando assumimos a gestão, se comprometeu em colaborar no que for possível. Já concedemos um imóvel para a construção da Apac, estamos fazendo a terraplenagem, colaborando com o projeto da construção e o prefeito Carlinhos Turatto já se comprometeu com os recursos para iniciar as obras. O governo está colaborando por entender que isso é um problema social e que é preciso fazer alguma coisa”, disse.

Ele destacou que o município é parceiro do Departamento Penitenciário (Deppen) e já utiliza mão de obras de detentos. “Nunca foi unanimidade, recebemos muitas críticas quando, de forma ousada, trouxemos os apenados para trabalhar aqui em convênio com o Deppen, mas isso está transformando a vida das pessoas que estão trabalhando e a nossa cidade. Eles não estão mais 24 horas fechados numa sela. Se você for conversar com eles, eles não querer ficar na delegacia nem no sábado e domingo, preferem trabalhar. Além disso, isso está gerando economia para os cofres públicos. A visão deles já é voltar para a sociedade, para a família e trabalhar para ajudar os pais, a esposa, os filhos”, completa.

Bruno e Paulo participaram, recentemente, do Congresso Nacional das Apacs e puderam ver como o sistema é efetivo. “Esse congresso mostrou, na prática, a forma que essas pessoas são transformadas com a Apac. Participaram pessoas de muitos países, ouvimos histórias, experiências e isso foi muito gratificante. Fizemos contatos, trouxemos materiais, experiências, para aplicar e construir nossa Apac aqui. Percebemos um trabalho forte do Poder Judiciário, do Ministério Público e das Igrejas, que são muito presentes nesse trabalho, e a gente trouxe muita bagagem para aplicar em Dois Vizinhos”, conclui.

Além da prefeitura, a empresa Juliplast Reciclagem, conta com a mão de obra de três detentas em parceria com o Deppen. Suelly Krefta destacou que a parceria tem sido muito boa para os dois lados. “Essa parceria foi apresentada em uma reunião e, a partir dali, entrei em contato, foi nos repassado um manual, como é o procedimento dentro da empresa com os recuperandos, respondemos um formulário, se comprometer com diversas exigências, mostramos o tipo de serviço e, a partir dali, 10% do quadro de colaboradores poderia ser composto por recuperandos. Temos três senhoras, extremamente dedicadas e todo final do mês passamos um relatório para a supervisão. Elas trabalham fazendo a classificação do plástico, juntamente com outras pessoas, nós oferecemos o transporte e o almoço e, no final da tarde, elas voltam para a delegacia. Se tivéssemos uma Apac elas estariam lá dentro. Os empresários que estão nos ouvindo e precisam de mão de obra podem buscar também. É pago um salário mínimo e não tem nenhum encargo como FGTS ou férias. A cada três dias trabalhados, elas diminuem um da pena. Se elas descumprirem alguma regra, você relata ao Deppen, automaticamente ela já é retirada do sistema e vem outra substituir”, explica.

Fonte: Portal Educadora