Não se tem uma informação oficial das vítimas da tragédia, mas estima-se que mais de 100 pessoas morreram no acidente.
Foto: Arquivo Pessoal
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Neste dia 19 de setembro de 2022, completam-se 49 anos do naufrágio da balsa da empresa Andreis, no Rio Iguaçu, que fazia a travessia entre os municípios de Dois Vizinhos e Quedas do Iguaçu, na localidade de Foz do Chopim. A população local lembra vagamente dos detalhes do maior acidente ocorrido no Rio Iguaçu. Muitos sobreviventes e famílias das vítimas fatais deixaram a comunidade depois da conclusão das Usinas Júlio de Mesquita Filho, no Rio Chopim, e de Salto Osório, no Rio Iguaçu.
O povo guarda na memória, no entanto, o triste ocorrido no final de tarde de quarta-feira, 19 de setembro de 1973, onde se perderam, submergidos, juntamente com os dois caminhões basculantes, um caminhão Chevrolet carregado de bebidas, um ônibus da empresa Cattani, um carro de aluguel, marca Aero Willys e dezenas de pessoas, passageiros e trabalhadores. Muitos gritos de pânico são ouvidos e, sobre as águas, aceno desesperado de mãos pedido por socorro, chapéus e capacetes descendo rio abaixo.
A ocorrência foi assustadora e horrível para os que dela participaram. Quando chegou a informação do naufrágio na vila de Foz do Chopim, correria e gritos nas ruas, principalmente, das esposas dos trabalhadores na barragem de Salto Osório. “Lembro que logo após a balsa afundar, um menino de bicicleta veio correndo me avisar. Fui até o porto e vi que não podia fazer nada. Estava tudo escuro. Então, vim avisar o prefeito e as autoridades”, lembra Ladir Pacci que era soldado da Polícia Militar em Foz do Chopim. Estima-se que mais de uma centena de pessoas estavam sobre a balsa. Era hora dos trabalhadores regressarem de Salto Osório e horário da chegada do ônibus da empresa Cattani, que fazia a linha Cascavel a Dois Vizinhos. Quantos morreram? Isso ninguém pode afirmar ao certo. As opiniões a respeito continuam contraditórias. “Entreguei no local do acidente, numa só vez, 31 caixões, todo o meu estoque, a pedido da Eletrosul. Mas, também, havia a Copel, acompanhando os trabalhos de resgate”, afirma seu Claudino Luís Dalbosco, proprietário da funerária Dalbosco & Cia Ltda, a única em Quedas do Iguaçu. A população contesta a versão oficial da Defesa Civil de 37 mortos e do levantamento realizado pela Igreja Católica que constatou a morte de 45 pessoas, além de outras 40 que teriam conseguido se salvar. O povo, no entanto, continua afirmando que o número de mortos e desaparecidos supera à casa de 100 pessoas. Não há dados oficiais sobre vítimas fatais.
Nenhuma família das vítimas fatais e nem sobreviventes receberam indenização da empresa que mantinha a balsa. As que estão recebendo, enfrentaram um martírio de 18 meses, precisaram providenciar toda a documentação e enfrentar a morosidade dos órgãos públicos. Não há informação de ações judiciais impetradas pelas famílias das vítimas contra a empresa. A única ação que deu entrada na comarca de Laranjeira do Sul denunciava os funcionários da balsa. O processo contém mais de 242 páginas, processando os funcionários Domingos Bonamigo e Ezelino Polese, que estavam trabalhando no dia do acidente. Mas, a Promotoria Pública solicitou a extinção da punibilidade dos responsáveis do naufrágio da balsa sobre o Rio Iguaçu, em Foz do Chopim, ao Juiz Manoel Sebastião Silveira Filho, que acatou o pedido em 17 de janeiro de 1984. A Promotoria Pública alegou que o naufrágio havia ocorrido há mais de dez anos, o que pesou na decisão do Meritíssimo Juiz, que determinou a prescrição do processo, declarando extinta a punibilidades em conformidade com os artigos 107 e 109 e seus incisos IV, do Código Penal Brasileiro.
O trágico acidente inspirou música que fala do sofrimento das famílias que perderam parentes e amigos. Os irmãos Davi, de Coronel Vivida, gravaram a música “Cruz na Praia”, abordando o assunto do naufrágio. Em 1977, a dupla sertaneja Erotides de Souza Costa e Inácio Rodrigo de Morais, do conjunto “Os Pistoleiros do Sul d’ Oeste”, gravaram seu primeiro LP, contendo uma música, que fez muito sucesso na época, falando do naufrágio da balsa e do sofrimento das famílias. “Fazíamos show e éramos conhecidos por causa da música”, firma Inácio Rodrigo de Morais.
Em qualquer show que a dupla de Eneas Marques fosse, as pessoas pediam para tocar a música que falava do naufrágio da balsa. “Muitas pessoas choravam ao ouvir a melodia na época em que o LP foi lançado”, afirma Albino Casarotto. As duas mil copias do LP foram vendidas em pouco tempo. Erotides de Souza Costa, compositor da letra “Naufrágio da Balsa”, tinha amigos que morreram no acidente. A música fala da tragédia, pede o consolo de Deus às vítimas fatais e aos familiares. Há famílias que ainda guardam o LP como uma das poucas relíquias da tragédia, como é o caso de Albino Casarotto e outros. Os anos se passaram e ainda temos famílias que guardam o LP, fotografias, recortes de jornais, como relíquias da tragédia.
Os nossos sentimentos de saudades às pessoas que partiram “engolidas” pelas águas do Iguaçu, hoje, submersa pelo lago de Salto Caxias, que também, encobriu a usina hidroelétrica Júlio de Mesquita Filho. Que os pecados de omissão e pressa sejam lavadas pelas águas sagradas do Rio Iguaçu.
Por Marcos Geraldo Witeck historiador de Cruzeiro do Iguaçu