A duovizinhense ficou um ano atuando no país africano e retornou recentemente ao Brasil.
Foto: Arquivo Pessoal
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A missionária duovizinhense Maiane Martins retornou ao Brasil no último dia 20 de setembro. Ela ficou na Guiné-Bissau durante pouco mais de um ano, atuando na missão São Paulo VI. Catequista, fonoaudióloga e de família muito atuante na Igreja Católica, Maiane falou sobre o trabalho realizado na África. “O início foi bastante desafiador, assim como toda a missão. Foi, talvez, o ano mais difícil da minha vida. Chegar lá foi um choque de realidade, um processo de adaptação bastante complexo. É tudo muito diferente. Quebo não tem luz elétrica, água encanada, saneamento básico e se deparar com isso é chocante. Eu achei que não ia conseguir em alguns momentos. Me perguntei algumas vezes isso, mas a força da oração me ajudou a ficar. Tínhamos tantas pessoas rezando por mim, pela missão, e eu pude compreender a força da oração. Eu já sabia quanto a oração era forte, mas senti na pele, vivenciei isso”, disse.
Além das ações evangelizadoras com crianças, Maiane trabalhou em um hospital. “Meu foco eram as crianças e gestantes. A diocese de lá tem uma prioridade na linha da saúde que é a redução da mortalidade materna e infantil, pela situação de desnutrição da população. Eu assumi esse trabalho. Essa realidade era algo que eu nunca tinha visto e foi algo que transformou a minha vida. Estar em contato com as gestantes também foi algo que Deus tocou na minha vida como uma forma de me curar. Lidei muito com situações de morte porque eram muitas doenças, as crianças desnutridas, acompanhei muitas famílias que perderam seus familiares, crianças que ficaram órfãos, a morte faz parte do cotidiano, ainda mais nesse cenário de hospital.”
A rotina era repleta de trabalho. “Eu acordava por volta das 6h. Às 6h30 tínhamos a oração comunitária na capela, o café da manhã e cada um partia para suas atividades. Eu ficava no hospital até umas 14h, 15h, aí que eu ia almoçar. No período da tarde, ficávamos fazendo coisas na missão e visitando famílias. As casas são todas de barro, algumas tem telhado de zinco, mas a maioria é com telhado de palha. Eu convivia muito na casa das pessoas, fiz amizades com enfermeiros, médicos, minha equipe de trabalho, os nossos vizinhos. Frequentava a casa, às vezes comia junto com eles e aí a cultura também é bem diferente, eles comem todos juntos, na mesma tigela, com as mãos. A comida também tem bastante pimenta”, explicou.
Sem recursos, oferece-se trabalho
A missionária ressaltou que pequenos gestos faziam a diferença na vida das pessoas. “É tudo muito precário. Não se tem recursos materiais e a solidariedade é o mínimo e o máximo que a gente pode fazer. Às vezes, um gesto, mesmo que pequeno, muda, transformar a vida, a realidade de uma pessoa ou de uma família. Lá, não tínhamos muitos recursos para oferecer, mas tínhamos nosso trabalho, a presença. Estamos lá, principalmente, em presença, tanto na evangelização, quanto em todas as ações que desempenhamos. Disponibilizamos nossa vida, nosso serviço e isso, para nós, muitas vezes, parecia tão pouco, mas Deus vem nos mostrando, através da devolutiva das crianças, das famílias, da gratidão, que é isso, que a nossa presença, a disponibilidade em estar presença, já faz a diferença”, relatou.
A religião que predomina no país é o islamismo, seguida das religiões tradicionais africanas e dos cristãos, que são minoria. “Eles são muito resilientes. Eu sempre olhei e pensei que Deus era muito presente lá. Eu não entendia como as pessoas vivem naquelas condições, só o que me explicava era a presença de Deus. Tem muitas doenças, tem lixo para todos os lados, animais doentes, a malária que mata muitas pessoas, as crianças também tem infecções desde pequenos, tomam muito antibióticos e, mesmo assim, são muito fortes.”
O que mudou na sua vida?
Maiane relata que a missão foi um marco na sua história. “A missão me fortaleceu muito. Porque tocar na vida das pessoas foi muito gratificante. Todas as ações que eu fiz lá me marcaram. Eu trabalhava mais no âmbito da saúde, mas também tinha a catequese infantil, com as crianças, no primeiro anúncio. No hospital eu atuei não como fonoaudióloga, como missionária que faz de tudo o que precisa ser feito, desde curativos, comida ou limpeza. O povo de é muito feliz. Eles não conhecem outra realidade, nasceram, cresceram e vivem daquele jeito sendo muito felizes dentro das condições que tem”, relata.
A jovem precisou voltar ao Brasil em virtude do seu trabalho, já que é concursada na prefeitura de Dois Vizinhos e, aos poucos, está retomando sua vida. Ela deixou uma mensagem para a população. “Essa questão do valor da família. Trazer para nossas crianças, resgatar talvez, essa importância da presença dos pais, dos familiares, é muito mais do que brinquedos, do que celulares, enfim, mas a presença. Temos que resgatar esse valor, seria muito importante para nossas crianças”, conclui.
Fonte: Portal Educadora