Durante todo o mês, ações estão sendo realizadas para relembrar a população da necessidade dos cuidados especiais para a mente.
Foto: Portal Educadora
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O Janeiro Branco busca, desde 2014, relembrar a população brasileira da necessidade de atenção à saúde mental. A ação acontece logo no primeiro mês do ano por se tratar de um período de transição, de início, de mudança e para mostrar que um ano novo abre diversas possibilidades para corrigir erros, concretizar planos e refazer a história. “A simbologia desse ano novo é uma vida nova. Em muitos casos, temos que pensar que o réveillon virou só em festa glamurosa, com bebidas caras, posts em redes sociais, mas cadê a essência? Está se perdendo. Essa passagem de ano é um livro em branco que temos que escrever e, dentro disso, fazemos questionamentos importantes. O que eu quero para minha vida? Que mudanças eu desejo? O que eu quero trazer de bom para mim? O que eu quero deixar para o passado? O que eu preciso mudar para ser melhor, em que eu posso evoluir? Temos que lutar para ser melhores do que ontem, mas sempre lembrando que não existe o sermos felizes o tempo inteiro, é momentâneo, são passagens”, disse a Dra. Daniela Roca, médica especialista em saúde mental e pós-graduada em psiquiatria.
Ela destacou que muito se fala sobre a saúde física. “Mas e a saúde emocional? Cadê a psico-educação? Muitas vezes se o paciente, logo no início, reconhece que não está bem, procura uma ajuda psicológica, reverte o quadro com facilidade, sem ir para o médico”, completou. Ela deu algumas dicas. “O que vocês podem fazer por vocês nas suas casas? Formar sua rede de apoio. Somos seres sociais, portanto, cultive amizades boas. Precisamos disso. Não se tranque dentro do quarto com seu celular e faça tudo on-line. Se você gosta de pintar, procura uma aula de pintura. Se gosta de caminhar, entra no grupo de caminhada. Quando você não está conseguindo conciliar, controlar tudo isso, busque ajuda. Não tenha vergonha, não tenha medo. Ainda temos tabus, por isso, a campanha é muito importante, urgente, porque os números da OMS mostram que os índices de suicídio, feminicídio, de uso abusivo de entorpecentes e drogas em geral só crescem”, completa.
Tecnologias x saúde mental
A psicóloga Gislene Hillesheim falou sobre alguns malefícios trazidos pela tecnologia à saúde mental. “Os hábitos atuais trazem muita fuga de si. O tempo todo estamos conectados a algo do externo e fugindo do interno. A gente precisa pensar na gente, se enxergar, se perceber, se sentir. Essa campanha tem o objetivo de trazer essa reflexão, dar um pause, dar uma segurada em tudo o que aconteceu nesses anos loucos, de pandemia, frear e se perceber. Vamos traçar novas metas? Assim como pensamos no financeiro, na carreira, temos que pensar na saúde mental. As tecnologias vieram para nos ajudar, mas, às vezes, se não soubermos dosar, vão na contramão de tirar de nós mesmos. Eu acordo, pego o celular, já estou na rede social. Eu tenho um minuto de paz e, ao invés de ficar em paz, eu já estou conectado a algo, ao externo. Trazer essa reflexão de autoconhecimento é extremamente necessária, fundamental para a saúde mental”, explica.
Qualquer alteração, para o bem ou para o mal, deve ser monitorada. “A vida é um constante equilíbrio. Quando se aproxima demais dos extremos, não está certo. Um dia você acorda bem, outros nem tanto, hoje você tem problemas, amanhã resolveu. Quando isso se aprofundar, por exemplo, com a pessoa não conseguindo sair da cama, não consegue tomar banho, não vê mais graça em nada, pendeu pra uma ponta, é a hora de buscar ajuda. Nossos amigos e familiares ajudam, mas muitas vezes é necessário também um profissional”, completa Gislene.
Ela destaca que muitos pacientes procuram auxílio somente quando os problemas já estão muito intensos. “As pessoas chegam quando tudo já pegou fogo, para apagar incêndio. Isso é uma pena porque muitas vezes temos que partir para medicação e, por isso, incentivamos bons hábitos, vida mais saudável, seja por ansiedade, depressão, transtornos alimentares, pânico, que é o auge da ansiedade, já temos muito. Quando a ansiedade muito mais intensa, não tem mais o controle, tem uma sensação de que vai morrer, que está em crise, falta de ar, enfim, é uma crise de pânico. Isso abrange todos os tipos de pessoa”, diz.
E na hora da crise?
A psicóloga dá algumas dicas para os momentos de crise. “É necessário se concentrar na respiração. É uma coisa que parece tão banal, mas a respiração é a chave do corpo. Através da respiração você consegue descompensar o seu corpo, mas também equilibrar. Mas se você conseguir colocar a respiração em ponto, baixa a crise. Encontre alguém que você confie, para se sentir seguro, uma pessoa que te apoie. Se você está em ambiente social, a dica é ir para um local mais calmo. Se não conseguir acalmar, busque um profissional. Numa crise de pânico, teu corpo entra em estado de stress tão elevado que você consegue alterar os batimentos cardíacos, a pressão arterial, a temperatura do corpo. Se você consegue buscar o equilíbrio naquele momento, tudo vai se acalmando. Aquela crise vai passar. Se isso se torna repetitivo, busque ajuda porque isso afeta o trabalho, o relacionamento com as pessoas, deixa de ser funcional. Saúde mental não é frescura. Está tudo atrelado.”
Ela destaca que o corpo é uma máquina e precisa de reparos. “Pratique exercício físico, qual você quiser, coloque o corpo em movimento. É necessário. Coma bem, não precisa fazer dieta, mas dê energia, nutrientes para o seu corpo. Durma bem. Se o teu celular precisa carregar na tomada, como você não precisa? Tenha pessoas, amizades boas ao teu redor que tudo fica mais fácil. A meditação é uma técnica muito boa, de encontro a si mesmo, independente da religião ou qualquer coisa. É fácil, não. Mas é importante. A meditação no início não é fácil, você para e começa a pensar em várias coisas, mas depois de um tempo você consegue ficar em paz consigo mesmo, numa técnica muito boa que pode te ajudar aliada a todas as outras coisas”, conclui.
Fonte: Portal Educadora