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DO PAGO AO SERTÃO

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JULIO VENDRAMINI

Quando cheguei, Dois Vizinhos tinha uns 23, 25 moradores, lembra Miro Galvan

Com 89 anos, o pioneiro de Dois Vizinhos está escrevendo um livro com a sua história.

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  • 03 de Abril de 2023
  • Foto: Portal Educadora

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No dia 21 de maio de 1954 o jovem Valdomiro Zeferino Galvan, o Miro, chegou em Dois Vizinhos vindo de Sananduva (RS). Na última semana, ele participou do Programa Sete e Meia na Rádio Educadora e lembrou a sua história. Ele falou sobre a escolha por Dois Vizinhos. “Viemos eu e o Ricardo Amadei. A gente era solteiro, os dois. Meu pai me mandou para preparar a morada para ele. Ao invés de preparar, compramos pronta. Saímos de Sananduva, fomos até Erechim (RS) e ficamos dois dias lá por causa do rio alto, não deu de passar. No dia 19 passamos o rio e viemos até Pato Branco. Dia 20 saímos de Pato Branco até o Verê e de Verê pra cá viemos tudo a pé. No fim, achei um Jipe que vinha pra cá vender remédio, pedi pra eles se me trazia, pagava passagem, quando chegamos no Lambedor, os caras derrubaram mato e trancou toda a estrada. Demoramos quase meio dia pra destrancar e passar com o carro. Chegamos aqui era meio-dia. Vim para morar, trabalhar”, lembrou.

Poucas famílias residiam no município, que ainda era distrito de Pato Branco. “No começo, era só mato. Puxamos, limpamos para fazer as moradas. Eu conheci o ‘véio’ Coletti quando a gente tava limpando o terreno para fazer a Igreja, a gente tava junto no serrote. Serrava as toras e os outros levavam embora. A gente vinha no terço, tinha o ‘véio’ Beloli que era nosso capelão, a gente se reunia todo domingo. Devia ter uns 23, 25 moradores só, longe um do outro. Era brabo, mas era bom também. E ver o que é hoje Dois Vizinhos, o que cresceu, nem conseguimos acompanhar a evolução”, completou.

Antes de chegar em Dois Vizinhos, a família trabalhava na roça, tinha uma fábrica de farinha de mandioca e de vassoura. “Eu lembro que em 1940, começaram a construir o moinho e, como era o mais velho, ia buscar ferramentas, a cavalo, fazia uns 10 quilômetros e ia nos ferreiros, só tinha prego e parafuso e o resto fazia tudo no ferreiro. Vai aqui, vai ali, busca comida. E nunca mais parei, fazer vassoura, farinha de mandioca, até quando vim para cá”, completa.

Sede do executivo

Miro lembra que a primeira prefeitura de Dois Vizinhos foi na sua casa. “Em 1961, o Dr. (Ivo) Cartegiani pediu se eu alugava a peça de cima da casa, que estava em construção, para colocar a prefeitura. Fizemos tudo da forma que ele queria e deu certo. Ficou um ano na minha casa. Aí veio o (Germano) Stédile de prefeito. Na peça eu também tinha a minha selaria e morava ali”.

Família

Miro lembra do casamento com Lurdes Maria Galvan. “Eu vim para cá e aqui tinha duas famílias que tinham moças aqui, mas não se davam. Aí veio o Vescovi, de Paim Filho (RS), e tinha quatro, cinco moças. Meu pai vendeu 17 alqueires de terra pra ele e depois ele ficou meu sogro. Eu namorei a Lurdes, que era a mais velha, por uns 90 dias e já casamos. Eu já tinha morada, móveis, tudo feito na oficina e tinha a selaria, artigos de montaria. Ela me ajudava a cuidar. Até eu acho engraçado porque ela era bem baixinha, parecia uma menina, tinha 19 anos e os clientes chegavam e diziam: onde é que está teu pai? Ela respondia que era minha mulher. Trabalhei cinco anos com selaria, aí meu padrinho de casamento, o Ildo Pagnoncelli, disse que era para começar a colocar roupas feitas e que eu ia dar certo. Fui para São Paulo a primeira vez, tudo estrada de chão, entrei lá, comecei a comprar roupa e colocamos, começamos a vender, larguei a serraria e comecei só com roupa feita. Se vendia, se vendia que só pra ver. Não tinha concorrência. Depois de um tempo, paramos e pronto”, completou. O casal teve cinco filhos: Elaine, Clarice, Rogério, Emerson e Débora.

Atualmente, Miro gosta de confeccionar terços, cuidar do seu sítio e se reunir com os irmãos e familiares. Ele também está escrevendo um livro com a sua história.

Fonte: Portal Educadora