Na última sexta-feira, 1º de setembro, aconteceu um evento para discutir a cadeia do leite na Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (Amsop). A crise no setor tem sido agravada nos últimos meses pelos grandes volumes de leite, principalmente em pó, que estão sendo importados de países vizinhos.

A reunião teve a participação de diversas autoridades e produtores e o discurso de Jeferson Maschio, de 18 anos, foi o que mais chamou a atenção porque emocionou muita gente e viralizou nas redes sociais, com mais de 500 mil visualizações. Ele ressaltou o investimento feito nos últimos anos que estão gerando endividamento. “Eu estou aqui pedindo, implorando, para que vocês deem um jeito, por favor. Lutem por nós, nós que pagamos os salários de vocês. Vocês têm que olhar para o povo brasileiro, não o povo Argentino, Uruguaio ou Chinês”, disse na sua fala.

Jeferson reside em Santa Izabel do Oeste e é o único dos quatro irmãos que permaneceu no campo com os pais. “Falta incentivo na propriedade e três precisaram ir para a cidade”. Ele é técnico agrícola e está cursando agronomia. Ele participou do Programa Educadora News nesta segunda-feira, 4, e falou sobre a repercussão. “O meu discurso foi para termos mais incentivo ao jovem produtor. Por exemplo, tem meu irmão, os caras de mais idade, que fizeram Casa Familiar Rural. Meu irmão fez, mas não teve incentivo para ficar na propriedade e foi embora. Os políticos precisam olhar para nós. Não importa qual seja, se é prefeito, vereador, deputado, senador, governador, por isso, eu tava pedindo que eles trabalhem por nós. Tem um ditado que se a agricultura vai bem, a cidade vai bem e isso vale muito no Brasil, que o forte é a agricultura. Eu estou estudando para ficar na agricultura, mas precisamos de incentivo”.

Nos anos anteriores, o inverno é quem segurava as contas dos produtores de leite no azul. “Era no inverno que sobrava. O resto do ano só empata porque a produção aumenta e o preço baixa. Esse seria nosso caixa, mas com o preço baixo, já estamos fechando no vermelho e, provavelmente, isso vai acontecer durante todo o ano”, lamentou. Jeferson acrescenta que, mensalmente, os produtores estão sendo pegos de surpresa quando vão receber pelo leite comercializado. “Sempre tem baixa. Todo mês tu vai pedir quanto vai receber, ninguém sabe e só vemos quando vem a nota. A gente ainda não recebeu a nota desse mês e não sabe quanto vai estar o litro. Aí temos o custo ração, com medicamento, tudo mais”, completou.

Histórico

Jeferson relembrou que o produtor de leite sempre trabalhou por centavos. “A luta do produtor de leite é de 30 anos. Tem produtor que tem 60 anos e conhece melhor que eu. A última crise foi 2014/15 e vários produtores venderam suas matrizes em 2016. Eu era bem novo, mas lembro que em 2012, chegamos a ganhar R$ 1,10 ou R$ 1,15. Em 2014, chegou a R$ 0,65 o litro de leite. Em 2015, foi para R$ 0,95 e em 2016 como os produtores venderam as vacas foi para R$ 1,60 ou R$ 1,70. Aí muitos quiseram voltar, mas para formar uma vaca vai dois anos e meio, três anos e até voltar todas as matrizes demora uns quatro, cinco anos e vai dar justamente em 2021”, relembrou.

Hoje, para ter um pouco de lucro, o produtor precisaria ganhar R$ 3 por litro. “Com R$ 2,70 a gente paga o gasto. Com R$ 3, sobraria para investir, para sobreviver também. A gente faz ordenha duas vezes por dia, tem gente que faz três e é complicado, 365 dias por ano, não tem folga. A gente tinha parado de tirar leite, meu pai tem problema, estourou os tendões do braço, então paramos uma época. Quando eu estava me formando, recebi proposta para ir pra fora do Paraná. Conversei com o meu pai, resolvemos fazer investimento. Financiamos R$ 120 mil para comprar as vacas de um produtor, inclusive, que desistiu porque não tinha incentivo. É menos um produtor de leite. Isso vai virando uma cadeia. Meus vizinhos estão todos reclamando, ninguém tá conseguindo ter lucro. Quem tá a pasto não tá ganhando dinheiro, quem é confinamento também não”, conclui.

Fonte: Portal Educadora