Sistema que revolucionou a agricultura foi celebrado no último dia 23 de outubro.
Foto: Portal Educadora
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Na última segunda-feira, 23, foi celebrado o Dia Nacional do Plantio Direto. O sistema foi considerado uma revolução na agricultura e começou a ser utilizado na década de 70. Em virtude disso, recebemos, no Educadora News, o professor Carlos Alberto Casali, doutor em ciência do solo, e o professor Ricardo Yuji Sado, doutor em agronomia com ênfase em piscicultura, da UTFPR-DV, que falaram sobre os últimos meses chuvosos e o desafio para conter a erosão do solo que chega aos nossos rios.
“Nossa região é bastante peculiar em relação as outras do Estado. Aqui é chove muito, até 2 mil milímetros por ano e temos um dos relevos mais ondulados. Ou seja, a erosão é maior. Ela é agravada quando entramos com ações do ser humano, as atividades antrópicas desde agricultura, a urbanização, a construção de estrada, qualquer desenvolvimento tente a agravar esses processos que são naturais. Na agricultura, temos algumas técnicas para amenizar os processos e melhorar a qualidade: uma delas é o plantio direto. O Paraná foi pioneiro no desenvolvimento em todo o Brasil, desenvolvido por agricultores associados a Adapar, na década de 70. De lá para cá, o sistema foi evoluindo e tem premissas básicas para evitar erosão: revolver minimamente o solo, ter cobertura constante com palha e rotação de culturas. Na nossa região, com o relevo dobrado, essas premissas não são suficientes, precisamos de terraços, as curvas de nível, ondulações criadas artificialmente para diminuir a velocidade da água. Também é necessário adequar as estradas que são grandes responsáveis pelos fluxos de água das lavouras para os rios”, explicou Casali.
O professor destacou que os produtores que tiverem dúvidas sobre qualquer sistema podem procurar a UTFPR. “A gente está buscando entrar em contato com os produtores, não é mais aceitável dizer que não sabia. O Paraná é pioneiro com lei de conservação de solo e água com fiscalização da Adapar, que notifica e cobra ao ver qualquer problema. Na nossa região, em função da declividade, o sistema plantio direto não é suficiente para segurar a erosão. Recentemente, tivemos 105 milímetros em seis horas e só a palha não adianta. Precisa do terraço, a curva de nível, que são obras de engenharia, envolvem cálculos, onde se observa a declividade, tipo de solo, ondulação, para saber tamanho, comprimento e declividade para saber onde é alocado. Hoje, além de não termos produtores fazendo, muitos estão retirando essa estrutura e a água acaba deslocada para as estradas que se tornam canal escoadouro. Com isso, não tem estrada que aguente e o solo também é prejudicado”, completa.
Nos rios, a erosão também gera consequências. “Quando temos eventos de mortandade de peixes, é normal as pessoas culparem o agricultor pelo uso de defensivos, mas, na verdade, se não temos o manejo adequado, todos os produtos podem atingir os corpos de água, nossos lagos, causando mortandade de peixes. É comum o aumento da matéria orgânica quando temos chuvas e, quando não há uma conservação, um cuidado, principalmente, de mata ciliar, esse processo de lixiviação, de erosão, é maior e, consequentemente, entra mais matéria orgânica. O que acontece? Entra nitrogênio, fósforo, que podem gerar crescimento de algas e aí acontece a eutrofização do meio, a poluição, que pode ser desde esse processo de erosão, como de liberação de esgoto. Isso gera problemas dos níveis de oxigênio no ambiente que causa mortandade dos peixes”, destaca.
Outro problema é o aumento de oxigênio nas águas em virtude das chuvas e liberação de águas nas usinas. “Isso é físico. Com o aumento das chuvas para cima, as concessionárias de energia elétrica tem o procedimento de abrir as comportas para dar fluxo, só que esse processo quando abre as comportas, é bonito, mas ele funciona como se fosse uma cachoeir e esse processo incorpora oxigênio na água e leva um quadro de supersaturação gasosa. Eu fui visitar uma piscicultura em Nova Prata, tem um monitoramento em tempo real, sendo que a concentração de oxigênio normal fica em torno de 6, 7 miligramas por litro e os sensores estavam sinalizando em 10, 11 miligramas por litro mais de 100% de saturação. Determinadas espécies são mais sensíveis a isso. Num ambiente natural que tem cachoeiras, o peixe nada, procura um ambiente mais propício. Na característica dos nossos lagos, não tem muito para onde o peixe ir. Com as usinas abertas, o gás não dissipa”, conclui.
Fonte: Portal Educadora