Duovizinhense é campeão sulamericano de futebol americano pela seleção brasileira

Munir Ahmed começou a praticar o esporte aqui e hoje é atleta do T-Rex, de Timbó (SC).

Image
  • 28 de Dezembro de 2023
  • Foto: Arquivo Pessoal

  • 2081

Na tarde desta quarta-feira, 27, o Vizi Esportes recebeu o atleta de futebol americano Munir Ahmed. Ele nasceu em Toledo, mas carrega Dois Vizinhos no coração por ter vivido aqui por muitos anos. Aqui também foi onde ele começou a praticar futebol americano em 2011, no Dois Vizinhos Red Feet. De lá pra cá, a paixão pelo esporte só aumentou e, no final de novembro, ele participou do Sulamericano pela Seleção Brasileira/Brasil Onças, conquistando o título. Ele também é atleta da equipe T-Rex, de Timbó (SC), uma das principais equipes do Brasil. Confira abaixo a entrevista com o comunicador Amarildo Felippi.

Amarildo Felippi – Gostaria que, para começar, você contasse sua história com o futebol americano?

Munir Ahmed - Eu comecei a jogar aqui em Dois Vizinhos em 2011, com um grupo de amigos da escola e com o Michel Antunes, que veio de Curitiba para trabalhar aqui e já tinha jogado lá. Surgiu a ideia de brincarmos, começamos lá no Clubinho se encontrando uma vez por semana e, durante um ano, a gente sempre se reunia, mas não era nada muito sério. Aí surgiu o Dois Vizinhos Red Feet, o meu primeiro time. Nessa época conseguimos chegar a ter uma média de 50 atletas. Jogamos nosso primeiro jogo no final de 2011 contra o Cascavel e o esporte entrou na minha vida em cheio. Me apaixonei. Fiz grandes amigos e a gente começou a tentar deixar um pouco mais sério. No começo, não tínhamos equipamentos, não tinha nada, era só a vontade de jogar e depois começamos a desenvolver. Conseguimos nossos equipamentos, que vieram de fora do Brasil porque não tinha onde comprar aqui, não tinha pra todo mundo, mas a gente conseguiu o suficiente para treinar e jogar. Em 2012, conseguimos a proteção de ombro, obrigatória para, fizemos uns dois jogos, aí depois conseguimos comprar nossos capacetes, outra proteção obrigatória e, em 2013, fomos jogar nosso primeiro campeonato que acabou não sendo pelo Red Feet, mas jogamos por Curitiba, no Guardian Saints. Nos reunimos com eles, jogamos o Paranaense e foi muito gratificante. Alguns dos nossos atletas se destacaram, ficaram entre os melhores do campeonato naquele ano e foi muito legal. Em 2015, foram mais campeonatos pelo Red Feet, eu acabei indo jogar para outro time chamado Unicentro Knights, de Guarapuava, jogamos Paranaense, a Copa Fronteira, onde fomos campeões, eu também joguei a Superliga Nacional pelo time de Foz do Iguaçu. Eu viajava todo final de semana para Foz para treinar e jogar. Em 2016 segui a mesma rotina, joguei pelo Red Feet, por Foz, três campeonatos juntos e foi seguindo assim. Durante a pandemia deu uma segurada, reduzimos muitos os treinos e quando começou a voltar as práticas esportivas eu vi que o T-Rex, de Timbó (SC), que hoje é três vezes campeão brasileiro, estava fazendo seletiva. Na época eu não tinha vídeos legais para mandar e lá já era um time grande nacionalmente, então, resolvi ir para a cidade, que fica a 600 quilômetros daqui, e fiz um treino aberto com eles. Acabei passando, eles me convidaram para jogar no time e, em 2022, me mudei para lá. Aí fomos campeões nacionais no ano passado, esse ano jogamos o brasileiro de novo e fui convocado para a seleção, onde atuei no Sulamericano em Brasília (DF) e conquistamos o título. Foi o primeiro campeonato oficial da seleção brasileira e conquistamos o título. Agora estamos nos preparando para os próximos passos.

Amarildo Felippi – Interessante essa história de que Dois Vizinhos foi pioneira no futebol americano com o Red Feet...

Munir Ahmed – A gente nasceu aqui, temos atletas até hoje de toda a região, do Verê, Pato Branco, Beltrão, várias outras cidades, e começamos aqui. Em 2012, para conseguir mais atletas e porque tínhamos um pessoal de Pato Branco que gostava muito do futebol americano, começamos a fazer treinos lá no campo da UTFPR e ai começou a ter bastante gente de lá. Também começamos a fazer treinos em Beltrão para facilitar, angariar mais atletas, tivemos um apoio legal lá, nos forneceram um campo, do Industrial, para treinar e hoje o Rede Feet está lá ainda. Eles jogaram a Série B do Brasileiro, estão querendo jogar o Paranaense e tenho muito carinho pelo time, pelos atletas que estão lá, são grandes amigos e muito da minha história está atrelada ao Red Feet. O pessoal está trabalhando para ser competitivo no ano que vem no Paranaense.

Amarildo Felippi – Como foi a chegada ao T-Rex, que já é uma equipe já bastante estruturada?

Munir Ahmed – Foi um passo bem grande. Aqui a gente treinava, levava a sério, mas não tinha tanta disponibilidade. Era um treino por semana em conjunto, cada um tinha que buscar o seu treino físico, ir na academia, tudo mais, não conseguia ter tanto tempo para treinar junto, o que ajuda na evolução do time. Eu cheguei em Timbó e foi uma virada de chave forte. Estamos treinando sete vezes por semana, o esporte é amador, a gente não ganha nada de salário, mas temos treinadores que passam os treinos da academia, temos uma planilha de preparação física, treinos de pista para condicionamento físico, treinamos agilidade, mudança de direção, o que precisa para o esporte, além de treino de campo com toda a equipe três vezes por semana. Foi um baque no começo, meu preparo físico não estava tão bom para o esporte, eu não tinha condicionamento, mas comprei a ideia, fui lá para crescer, não faltei treinos, mudei a alimentação, segui as planilhas, estudei bastante, já que todos nossos treinos são gravados, a gente vê tudo o que fez, faz as correções e lá eu mudei de posição: no Red Feet eu era corredor, carregava a bola e tentava conquistar jardas e no T-Rex eles me convidaram para jogar de linha defensiva. Abracei a ideia, consegui a vaga, fui titular o ano todo e, em 2022, fomos campeões nacionais. Foi um ano muito legal, muito crescimento, com muito desafio dentro do time, muitas amizades. Me apaixonei tanto pelo processo de jogar, pelo crescimento que meus objetivos foram aumentando. Eu fui para lá com o sonho de jogar, de ser titular, mas aí passei a querer mais, até de ir para a seleção. Batalhei para estar na seleção em 2023. Outro fator que ajudou é que minha esposa se adaptou muito bem na cidade e isso ajudou bastante, está sendo muito bom. Neste ano, tivemos uma renovação muito grande do time e, como eles não pagam, muita gente vai de fora, passa uma temporada para crescer e acaba indo para outras equipes. Dos 50 e tantos atletas, sobraram 15, 20 veteranos que ficaram, então foi um ano de construção para a nossa equipe.

Amarildo Felippi – Como foi pra você ser convocado para a seleção? Como reagiu ao convite?

Munir Ahmed – Foi incrível. Já tínhamos finalizado nosso ano pelo T-Rex e a convocação foi on-line. Os treinadores começaram a falar, a chamar os nomes, quando chegou na defesa e eu vi meu nome passou na minha cabeça uma história gigantesca, não só do esforço de dedicação pelo ano, mas de todas as pessoas que passaram na estrada comigo. Eu não aguentei, chorei, abracei minha esposa, pulei, foi uma experiência única. Lembrei todos que me apoiaram, minha família, minha esposa, meus amigos do Red Feet, que começaram a jogar comigo em 2011. Foi a concretização de muito trabalho, foram dois anos em que dediquei muito do meu tempo livre para treinar e jogar futebol americano. Eu tenho meu trabalho e jogo como um hobby no final do dia, mas eu levo a sério pra caramba. Isso me premiou com a seleção, eu passei a me dedicar mais, a não me abalar quando não estava tão bem, me alimentei melhor, perdi 10 quilos pra mudar de posição, tive que fazer as coisas certas e foi gratificante, mas valeu muito à pena, foi incrível.

Amarildo Felippi – E como foi a disputa do Sulamericano com o Brasil Onças? Como é a estrutura da seleção?

Munir Ahmed – No começo foi formado um grupo de WhatsApp e o coach (treinador) foi passando as informações de como seria, o cronograma. Tivemos reuniões on-line prévias para começar a falar sobre sistemas de jogo e estudamos muito para chegar lá e só executar. A competição durou uma semana, de 27 de novembro a 3 de dezembro e cada atleta precisou ir por conta própria. Chegando lá, a Confederação Brasileira nos forneceu transporte, hospedagem, alimentação, uniformes e toda a estrutura. De lá tínhamos todo um planejamento, desde o horário para o café da manhã, treinos, almoço, de tarde eram planejamentos diferentes, como reuniões, aí teve as fotos, depois vieram os jogos, começamos a acompanhar os adversários, assistir jogos. Também tínhamos suporte médico e de fisioterapia e cada posição tinha um coach, além do head coach e dos treinadores específicos de ataque e defesa, por isso, conseguimos evoluir muito. Os melhores do Brasil estavam lá e foi uma semana de muito aprendizado. Todo mundo foi muito receptivo, legal, numa troca de experiência rica, onde eu consegui absorver muita coisa boa. Foi bem legal. A gente não sabia, com antecedência, como os adversários viriam para os jogos. Aqui no Brasil estamos tentando transmitir todos os jogos ao vivo, depois tem cortes, é bem profissional, a gente consegue estudar os adversários. Por isso, assistimos os jogos, vimos o que estavam fazendo para se preparar e estávamos muito motivados, para todos era um sonho estar ali e a gente deu o nosso melhor. No primeiro jogo, ganhamos de 56x0 da Colômbia, não deixamos os caras jogarem, nosso ataque jogou bem, a defesa não cedeu nada e, no segundo jogo contra o Chile, que era o mais esperado, porque a seleção havia enfrentado ele há uns 10 anos, tinha ganhado mas tinha sido parelho e a gente pensou que eles tinham crescido tanto quanto a gente, porque o Brasil continuou trabalhando, foi se profissionalizando e, no confronto, percebemos que tínhamos evoluído bastante, foi um jogo de 55x0. Também não deixamos eles jogarem. Para mim foi especial, eu consegui fazer um touchdown, que é o nosso gol e foi muito massa. Bloqueamos o chute, recuperei a bola na área ade pontuação e deixei meu ponto marcado na seleção. Era um triangular, fomos campeões, comemoramos bastante e foi a realização de um sonho para todos que estavam lá. Finalizando o campeonato, já estamos focados porque em 2024 temos as eliminatórias do mundial que acontece em 2025 na Alemanha e queremos muito participar. Meu objetivo é continuar jogando, ser campeão nacional novamente e tentar participar do mundial, onde vamos encontrar as grandes potencias do mundo.

Fonte: Portal Educadora