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Três anos sem Valdir Luiz Pagnoncelli

O jornalista, proprietário das Rádios Educadora e Vizinhança FM, nos deixou no dia 11 de maio de 2022.

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  • 09 de Maio de 2025
  • Foto: Arquivo/Portal Educadora

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No dia 11 de maio de 2022, às 5h19, Valdir Luiz Pagnoncelli fazia sua passagem. O jornalista, proprietário das rádios Educadora e Vizinhança FM, tinha 74 anos e estava em uma luta contra o câncer há mais de 10 anos (desde 2011).

Valdir Luiz Pagnoncelli nasceu em 27 de janeiro de 1948, em Sananduva, no Noroeste do Rio Grande do Sul. Aos 9 anos, mudou-se com a família para Dois Vizinhos. Em uma de suas últimas entrevistas (não como entrevistador, mas sim como entrevistado) foi no especial da Rádio Educadora de 60 anos do município, em novembro de 2021, seis meses antes de seu falecimento. Na ocasião, Valdir expressou o seu amor por Dois Vizinhos e revelou o que vinha na sua cabeça quando ouvia o nome da cidade ‘Dois Vizinhos’. “Primeiro, eu me lembro de um coletivo de vizinhos. O que dá um coletivo de vizinhos? A vizinhança. E a palavra vizinho é uma palavra muito carinhosa, de muito afeto, de muita irmandade, de solidariedade, de um parentesco, de uma felicidade como nunca de nós termos e sermos dois vizinhos”, disse.

Ele detalhou o que era Dois Vizinhos quando a família chegou aqui em 1957. “Eu cheguei em 1957 e o município foi instalado em 1961, então, toda minha família chegou aqui antes da criação de Dois Vizinhos. Eu lembro que a igrejinha era instalada na praça que hoje é Ary Muller, na época Ademar da Costa Machado, tinha a casa paroquial do Padre Florêncio Cobalt, a selaria do Guilherme Guzzo, alguns bares, algumas lojas de tecidos. Tudo era de chão batido, casas de madeira lascada e a primeira serraria do José Perin, que começou a serrar as primeiras tábuas para começarmos a ter casas de madeira serrada”, completou.

A família sempre teve vocação empreendera e vieram para o Sudoeste para trabalhar na roça. “Todos nós éramos colonos, desde o começo. Qual era a vocação do migrante? A posse da terra e a sustentação da família. Houve a grande migração do Rio Grande do Sul para cá, como houve da Itália para o Sul do Brasil e as famílias se instalaram, no meu caso, em Sananduva (RS), cresceram e viemos para cá com 11 irmãos, sendo que dois nasceram aqui. Aí família numerosa gerava uma mão de obra fácil que era da própria família e todos carpiam, roçavam, derrubavam mato tudo de forma manual, braçal”.

Mais tarde, na pré-adolescência, Valdir foi para o seminário. Cursou a admissão e o ginásio no Seminário do Sagrado Coração de Jesus, em Ibicaré, Santa Catarina. Fez o curso clássico na Escola Apostólica de Pirassununga (SP). Morou em Curitiba por seis anos, formou-se em Letras na PUC-PR e em Ciências Econômicas na UFPR, com adaptação em Jornalismo. Ele só voltou para Dois Vizinhos depois de concluir os estudos para se tornar secretário do então prefeito Ervelino Coletti. “Quando eu fiz 12 anos, fui para o seminário. Minha vocação para ser padre era uma promessa da minha mãe, uma longa história, mas fui para o seminário, fiz a admissão, os quatro anos de ginásio e os três anos do clássico em Pirassununga (SP). Eu voltei de lá, fiquei seis anos em Curitiba, fiz administração, letras, jornalismo, daí o Coletti era o prefeito e tinha uma dificuldade de gente e aí foram me buscar para ser secretário do prefeito. Eu achava que ser secretário era atender telefone, servir cafezinho e anunciar a próxima pessoa que iria falar com ele, mas a realidade era totalmente outra”, lembra. Valdir também foi professor na rede estadual de ensino por 15 anos.

Depois, Valdir voltou a atuar em cargo público, sendo gerente municipal, uma espécie de Secretário Geral da Prefeitura do então prefeito e seu melhor amigo, Jaime Guzzo, onde atuou para que Dois Vizinhos tivesse curso superior com a chegada da Faculdade Vizivalli. “Ele me chamou para um fim específico: você vai ser gerente municipal, vai criar uma logomarca, que é a casinha dos dois vizinhos, vai fazer mudanças internas, que ele, politicamente, não conseguia fazer e vai me trazer um curso superior para Dois Vizinhos. Como eu morei muito tempo em Curitiba, eu tinha um relacionamento bom, primeiro eu fui na Tuiuti e encontrei o Borges da Silveira e ele falou que arrumava um curso, mas a gente tinha que fazer dele deputado estadual. Eu falei: muito obrigado, até logo, esse compromisso eu não assumo. Aí fui falar com o Irmão Clemente, reitor da católica e ele disse que estavam investindo no litoral. Aí falei com o Algacyr Munhoz Mader que foi reitor quando eu fui conselheiro da Federal e ele disse que estavam investindo em Palotina. Na volta, fomos falar com o Dom Agostinho (José Sartori – bispo diocesano) e conversamos, falamos que ele tinha perdido Pato Branco porque dormiu no ponto, perdeu Beltrão por dormir no ponto e que ele não podia perder Dois Vizinhos. Daí começamos a Vizivali, fui diretor local, subordinado a Palmas, e terminou nisso que nós vimos aqui”, lembrou.

Valdir ainda foi secretário da Prefeitura de Dois Vizinhos em três administrações. Foi um dos fundadores da Associação Comercial e Empresarial de Dois Vizinhos (Acedv) em 21 de abril de 1976, presidindo a entidade por sete anos.

Fundou a Rádio Educadora de Dois Vizinhos em 5 de agosto de 1977. Fundou a Rádio Vizinhança FM de Dois Vizinhos em 28 de novembro de 1991. Foi presidente da Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (Aerp) na gestão 2001/2003. Entrou para o Rotary Club de Dois Vizinhos em 1976. Foi governador do Distrito 4640 do Rotary International na gestão 1996/1997.

Em 1990, entrou para a organização internacional The Friendship Fource. Através dessa organização, visitou países de cinco continentes do planeta.

Valdir nunca escondeu o carinho por ‘Dois Vizinhos’. Em cada entrevista, defendia as bandeiras para o desenvolvimento do município e disse que sentia ‘o maior orgulho do mundo’ de ver a cidade crescendo. “É a melhor cidade do mundo. As pessoas que eu conheço e vem aqui se apaixonam por Dois Vizinhos, com todos nossos problemas, dificuldades. Nós nascemos já errando. O município foi criado em 1960 e instalado em 1961 e, pasmem, eu já estudava no seminário e o padre nos cobrava muito o latim e o português. Tanto que eu fui tão bom no latim que a gente fazia peças de teatro, só com homens, porque eram só seminaristas, e eu fazia o Cícero, no senado romano, com meus discursos em latim contra o Catilina. Quando criaram município, em 1960, foi com a grafia de Dois Visinhos escrito com ‘S’. As placas dos carros, certidões de nascimento, casamento, registros, papeis timbrados do município eram com S e eu era seminarista e, nas férias, vendia uva na cidade, de carroça. Um dia fui lá na prefeitura porque vendia bem ali e comecei a explicar a origem da palavra já que toda palavra que, em latim, se escreve com C, você em português escreve com Z. Como ‘vicinus’ é vizinho, o vizinho tem que ser com Z. Sabe quanto tempo ficamos nessa briga para mudar o nome? Por uns 10 anos. Só mudou através de uma lei do deputado Ivo Thomazoni”, conclui.

Essa entrevista, de Valdir Pagnoncelli, contando a sua história, foi feita no especial de 60 anos que a Rádio educadora levou ao ar em novembro de 2021. Menos de seis meses depois, o jornalista fez sua passagem, em 11 de maio de 2022, deixando um grande legado.

Fonte: Portal Educadora