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O belo, os bonzinhos e os maus

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  • 26 de Maio de 2009
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O belo, os bonzinhos e os maus

Do consagrado Justin Timberlake aos comportados Jonas Brothers, passando pelos rebeldes ingleses do McFly, o que os garotões
do pop têm a dizer ao público adolescente e pré-adolescente

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Anna Paula Buchalla, de Nova York, e Sérgio Martins

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Justin Timberlake

Quem quer que deseje entender por que a música pop ocupa um espaço tão grande na vida dos adolescentes - e, de maneira sempre mais acentuada, também na daquela faixa etária entre os 9 e os 13 anos conhecida como pré-adolescência - deveria guardar na memória estes últimos dias de maio, quando duas das maiores bandas voltadas para esse público se apresentam no Brasil. Sucesso estrondoso em todo o mundo, o trio americano Jonas Brothers reservou duas datas para shows no país: dia 23, no Rio de Janeiro, e dia 24, em São Paulo. Também no auge da popularidade, o quarteto inglês McFly planejou uma turnê mais extensa, cobrindo sete capitais - de Manaus a Porto Alegre. A visita simultânea das duas bandas é curiosa porque elas encarnam estilos opostos: os primeiros são castos e religiosos; os segundos, irreverentes e provocadores. E é essa mesmo a questão: o cenário pop é uma espécie de teatro em que as escolhas que meninos e meninas começam a fazer são projetadas de maneira ao mesmo tempo inconsequente e muito séria - escolhas sobre como lidar com a autoridade dos pais e testar seus limites, sobre como descobrir o sexo, sobre como moldar a própria identidade. Não é por outra razão que tantos jovens trocam de ídolo com uma frequência que deixa os adultos zonzos. Alguns artistas, no entanto, conseguem uma permanência surpreendente nesse universo volátil - e acabam acompanhando os fãs até a maturidade. Um exemplo disso é o mega-astro americano Justin Timberlake, de 28 anos, que VEJA entrevistou para esta reportagem.

Desde os anos 50, nos primórdios do rock, a indústria fonográfica se esforça para produzir ídolos que conquistem os adolescentes. Formado em 2003, o McFly, com seu figurino entre rebelde e romântico, se enquadra nessa tradição. Com idades entre 22 e 24 anos, Tom Fletcher e Danny Jones (guitarra e vocais), Dougie Poynter (baixo) e Harry Judd (bateria) conquistaram o primeiro lugar na parada inglesa já com o disco de estreia, Room on the 3rd Floor. Também já incursionaram no cinema: em 2006, foram protagonistas de Sorte no Amor, uma comédia romântica que tinha como estrela a doidinha Lindsay Lohan. Houve rumores de um romance entre Lindsay e Judd, mas ele não confirma nem desmente o namorico. Muito de acordo com seu figurino revoltado, os quatro músicos não admitem que os tomem por um grupo de rostinhos charmosos. "Não somos bonitinhos. Aliás, se nosso sucesso dependesse da beleza, estaríamos perdidos", desdenha o vocalista Tom Fletcher. O fato, porém, é que não é só pela música que as meninas gritam e suspiram nos shows do McFly.

Embora também tenham grande apelo entre as meninas de 15 ou 16 anos, o Jonas Brothers atinge em cheio uma faixa etária diferente, que só recentemente tem merecido atenção da indústria do entretenimento: os chamados pré-adolescentes. Educados em um ambiente de muitos estímulos tecnológicos - em geral, sabem usar o computador melhor que os adultos - e mais precoces do que foram seus pais, os pré-adolescentes já revelam o desejo de afirmar sua identidade, mas ainda não extravasam a rebeldia típica dos adolescentes. O Jonas Brothers é a banda perfeita para eles: sua performance de palco roqueira encena uma certa coreografia da rebeldia juvenil, sem realmente romper o quadro do menino obediente à família. Essa rebeldia controlada explica seu apelo romântico junto às meninas (os garotos podem até tê-los como modelo de comportamento, mas são minoria entre seus fãs): bonitinhos e barulhentos, os três irmãos jamais se mostram ameaçadores.

Os irmãos Nick, de 16 anos, Joe, de 19, e Kevin, de 21, lançaram seu primeiro disco em 2006, pela Sony Music - que os dispensou porque as vendas ficaram abaixo do esperado. Pouco tempo depois, a Hollywood Records, braço fonográfico da Disney, contratou os manos. Foi o casamento perfeito: a Disney é a maior produtora de filmes, programas e músicas voltados para os pré-adolescentes, como o sucesso High School Musical. Os Jonas passaram a aparecer em produções como a série Hannah Montana (Nick até foi, por algum tempo, namorado da estrela da série, Miley Cyrus) e o filme Camp Rock. A promoção massiva funcionou, e o grupo estourou nas paradas. Seus três discos pela companhia já venderam 6 milhões de cópias (130 000 só no Brasil). A Disney segue investindo nos meninos. Acaba de lançar um filme em 3D com shows dos irmãos Jonas, The 3D Concert Experience, que estreia nesta semana no Brasil. O Jonas Brothers encaixou-se à perfeição na linha de divertimento familiar mantida pelos produtos Disney (palavrões e conteúdo sexual não cabem nas atrações da empresa). Filhos de um ex-pastor protestante, os três irmãos são comportadíssimos. Moram com os pais, rezam antes de cada apresentação e usam "anéis de compromisso", que simbolizam a disposição de não fazer sexo antes do casamento. "A fé é importante para nós e para nossa família", disseram em entrevista a VEJA (sim, eles falam ao mesmo tempo, ensaiadinhos, quase em coro).

A Disney sempre foi uma fábrica de estrelas juvenis. De lá saíram, em uma fase anterior, Britney Spears e Timberlake, que foram colegas no Clube do Mickey. Mas Timberlake não é exatamente um produto Disney: sua carreira pop começa mesmo a deslanchar depois do Clube do Mickey, quando entrou para o ‘NSync, uma das chamadas boy bands da década passada. Ao contrário do McFly e do Jonas Brothers, que tocam seus próprios instrumentos, as boy bands eram grupos vocais cujas apresentações se centravam sobretudo na dança. Não era o tipo de show ou de música capaz de conquistar o público adulto. No entanto, Timberlake soube operar com muita habilidade a difícil virada de ídolo adolescente para um respeitado cantor de R&B. Cercou-se de grandes produtores, como Timbaland e Pharrell Williams. Sua carreira solo começou sete anos atrás, com o lançamento do CD Justified. Mas foi em 2006 que Justin explodiu, com a faixa SexyBack, do seu álbum mais recente, FutureSex/LoveSounds. Hoje, o astro americano tem cinco filmes no currículo, um selo próprio e uma marca de roupas. Fechou recentemente um contrato milionário para ser o rosto de um perfume da Givenchy. Dois milhões de fãs pagaram 100 milhões de doláres para assisti-lo em sua última turnê. No ano passado, seu nome era o segundo na lista das estrelas milionárias com menos de 30 anos, ficando atrás apenas de Beyoncé. Sua fortuna, segundo a revista Forbes: 44 milhões de dólares.

O garotinho bonito do ‘NSync hoje desfila uma sexualidade adulta. Combina a beleza refrescante de menino (os olhos azuis de um tom claro são mais bonitos pessoalmente do que os que aparecem nas fotos) com um jeitão viril. Seu torso, definidíssimo, é um dos mais comentados do showbiz. O blazer com ombreira e os cabelos oxigenados do tempo do ‘NSync são pecados de adolescência, há muito superados. Hoje, sua barba é cuidadosamente malfeita. As mulheres adoram. Os rapazes querem imitá-la.