Os funcionários da Lótus Indústria e Comércio de Confecções tiveram uma decepção ao voltar para o trabalho segunda-feira, 11, depois de 24 dias de recesso. Ao chegarem à empresa, no Núcleo Industrial Conab, no Bairro Cango, em Francisco Beltrão, eles se depararam com as instalações fechadas e sem nenhum equipamento no barracão. Havia apenas um bilhete aos empregados dizendo que a empresa fechou por falta de pagamento dos clientes e que a Justiça deveria decidir "seu curso".
Conforme a funcionária Márcia Schleicher, o proprietário da indústria, Márcio Junkes, não teria dinheiro para pagar as despesas dos seus empregados. A Lótus foi fundada há oito anos e trocou de donos quatro vezes. Os novos proprietários - Márcio e Andreia Junkes - estavam há mais de dois anos administrando a indústria, que produzia em sistema de facção (serviço terceirizado) produtos em jeans para uma empresa de São Paulo.
Trabalhavam nesta indústria 35 funcionários - a maioria mulheres - nas funções de costura, auxiliar e passador de roupas. Marcia disse que a maioria das mulheres que trabalhavam na Lótus é casada ou tem filhos. Ainda de acordo com ela, foi procurado o advogado Arni Hall "porque o sindicato não deu as caras" - está de recesso até o dia 18 de janeiro. Arni já está recebendo os documentos dos funcionários para protocolar uma ação coletiva, contra a Lótus, na Justiça do Trabalho.
Mais empresas vão fechar no Sudoeste
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Confecções do Sudoeste do Paraná, Eloir de Oliveira, adiantou que outras empresas podem encerrar suas atividades em Francisco Beltrão, Coronel Vivida, Nova Prata do Iguaçu e Santo Antônio do Sudoeste. Em Flor da Serra do Sul, duas indústrias teriam fechado recentemente.
Desde o ano passado, o Brasil enfrenta uma grave crise econômica e política que vem impactando diretamente nos negócios e gestão das empresas. Conforme o Serasa Experian, de São Paulo, houve 1.783 pedidos de falência em todo o País em 2015, movimento 7,3% maior que em 2014 (1.661).
Colaboradora diz que carteiras de trabalho de alguns funcionários ficaram com os donos da indústria
Márcia Schleicher, funcionária da Lótus, disse acreditar que nem os valores do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) do pessoal foram depositados pela empresa. Alguns trabalhadores foram à casa de Márcio e Andreia, no Bairro Jardim Floresta, mas não encontraram ninguém. Marcia relatou que os trabalhadores estão "desesperados porque não receberam os salários, nem férias e nem os seus direitos. [Ele] só pagou mesmo o 13º [salário]".
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Confecções do Sudoeste, Eloir de Oliveira, afirmou que a entidade não deixou de dar assistência aos empregados da Lótus. "Fazia tempo que [a empresa] estava neste fecha, não fecha." Eloir contou que em conversa com o proprietário da empresa, no ano passado, ele teria lhe dito que iria pagar os salários e que jamais deixaria de tomar esta atitude.
Diante desta situação na empresa, o advogado do sindicato, Dejaime Turim, também está à disposição dos funcionários para a assistência jurídica.

Jovelina Chaves lamenta fechamento da empresa
A secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico de Francisco Beltrão, Jovelina Chaves, lamenta o fechamento da indústria de confecções Lótus. "A gente sente muito por esta decisão da empresa. Por outro lado, a empresa deveria dar uma satisfação aos trabalhadores porque entrou [no núcleo industrial] por meio do poder público", afirma. Diante desta situação, em que até os maquinários foram retirados e o pessoal foi embora, a administração municipal deve revogar o contrato de cessão do imóvel.
Neste começo de ano, outras duas indústrias de confecções estariam encerrando suas atividades em Beltrão. Este ramo vem sofrendo há anos com a alta carga tributária e até 2014 sofria com a grande quantidade de produtos importados da China, com valores mais baixos porque a moeda brasileira - o real - estava valorizado em relação ao dólar. Por isso, as empresas importavam em larga escala as confecções dos chineses.
A desoneração de impostos da folha de pagamento do setor industrial, em 2013 e 2014, deu uma sobrevida para muitas empresas. Mas no ano passado, o governo revogou a desoneração e passou a cobrar uma alíquota mais alta de um dos impostos. Além disso, com a inflação em alta - maior taxa dos últimos anos, em torno de 10% -, o aumento das taxas de juros para empréstimos e do cheque especial provocaram impacto negativo sobre o setor. "A gente está sentindo que as empresas que estão se mantendo são aquelas que anteviram este processo, que iria ter esta crise no setor de confecções", analisa Jovelina Chaves.
Empresas que se organizaram, buscaram fazer planejamento e mais informações e tinham capital de giro estão sobrevivendo à crise econômica. Para Jovelina, o planejamento nas empresas é fundamental para encarar os momentos de crise.


FONTE: Jornal de Beltrão

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