Márcio Leijoto
Direto de Goiânia

Às vésperas das festas de fim de ano, a prefeitura de Goiânia (GO) começa na próxima quarta-feira uma operação para impedir o aumento de pedintes nas ruas da capital, inclusive os que chegam de outras cidades e Estados. Com um fluxo de pessoas e turistas no comércio goianiense meior nesta época, a Secretaria Municipal de Ação Social (Semas) estima que o número de moradores de rua pode crescer até cinco vezes se não houver um trabalho de fiscalização.

A maior preocupação é com pedintes de outras cidades e regiões. De acordo com o secretário municipal da Ação Social, Walter Silva, a prefeitura precisou intervir para impedir a chegada de pedintes encaminhados por outros municípios no final do ano passado. Foram pelo menos dois casos: moradores de rua de Itumbiara (GO), no sul do Estado, e de Uberlândia (MG).

"Nossa equipe que fica na Rodoviária estranhou uma movimentação específica e, ao investigarem, inclusive com a ajuda de um jornalista, descobriu que era um pessoal enviado pela prefeitura de Uberlândia. Entramos em contato com o poder público lá e descobrimos que eles estavam mandando as pessoas para Goiânia porque só tinham dinheiro para chegar até Goiânia", lembra Silva.

Com deficiência visual, os pedintes de Itumbiara eram colocados em uma van com chegada sempre no início da manhã em Goiânia. Eles pediam esmolas nas principais ruas comerciais da cidade e depois retornavam à cidade de origem. Neste caso, a Semas pediu a intervenção de uma entidade voltada para atendimento de deficientes físicos, que conseguiu barrar o esquema.

"Não queremos expulsar ninguém. Por isso, estamos dobrando nossa equipe de atendimento nas ruas e aumentando a capacidade de nosso abrigo de 100 leitos para 240. Queremos tirar essas pessoas das ruas, oferecer um atendimento a elas, ajudá-las, ver quais as necessidades delas e então fazer o encaminhamento que for necessário", disse o secretário.

A Semas informa que, nos últimos 10 dias, foi percebido um aumento considerável no número de pedintes, com pessoas vindas principalmente do Nordeste. "Elas vem em busca não só de dinheiro, mas de atendimento na saúde. Aí chegam, têm o primeiro atendimento, mas não tem onde ficar até o dia do retorno. Então, vão para as ruas. O que queremos é que elas não fiquem nas ruas", comentou Silva.

R$ 30 no primeiro dia
A doméstica Maria de Jesus Gonçalves de Souza, 40 anos, chegou em Goiânia na quinta-feira, dia 12, e conseguiu arrecadar R$ 30 como pedinte já no primeiro dia. Ela veio do Ceará em busca de um tratamento para uma doença degenerativa no osso do braço direito. "Os ossos ficam quebradiços", afirmou sobre o problema de saúde, sem dar mais detalhes.

Atendida em um hospital público, ela foi orientada a marcar uma cirurgia. Contudo, precisa de R$ 1,5 mil para o tratamento com remédios. Por isso, na sexta-feira, já estava na Praça dos Bandeirantes, o centro da Região Central de Goiânia, pedindo esmola. "Consegui R$ 30 e um almoço nesse dia. O povo daqui é muito generoso. Eu espero não precisar ficar aqui na rua", disse.

No sábado de manhã, quando conversava com o Terra, Maria de Jeses disse que ninguém da Prefeitura nem da Polícia Militar mandou ela se retirar da calçada ou a levou para algum abrigo. "Ninguém veio falar comigo. Eu vim para cá, sentei e fiquei. Os outros pedintes me trataram bem, não se incomodaram", disse.

Conflito de dados
Os números de pedintes nas ruas da capital são bastante conflituosos, dependendo da fonte de informação. O Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) fala em mais de 560. A prefeitura informa que são 30 ou 40. "Havia mais de 300, mas conseguimos afastá-los das ruas, levando-os para nossos abrigos ou conseguindo reintegrá-los a suas famílias", afirmou Silva.

Para a Ana Vicencia Fernandes Costa, coordenadora da Casa de Crianças e Jovens Talitha Kun, entidade que cuida da população de moradores de rua com menos de 18 anos, o número é bem maior que o divulgado pela Prefeitura. "Basta andar nas ruas. Esse número que a Prefeitura falou você ultrapassa logo que começa a caminhar."

Ana Vicencia diz acreditar que a operação da Prefeitura é mais uma forma de repressão à população de rua, já que tem como foco afastá-los por causa do incômodo que causam ao comércio, aos turistas e aos goianienses que vão às compras.

Por que isso está sendo feito agora? Por que não antes? Eles só querem tirar essas pessoas da rua, mas depois não é feito um trabalho eficaz, com profundidade, e elas acabam voltando. O que precisa é mudar a política pública de atendimento a essa população, com mais investimentos. É um trabalho complicado. Não basta pegar, tirar da rua e devolver para a família", critica.

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