Uma semana depois da reportagem “Parlamentares querem criar “estrada-parque” em área de bichos ameaçados”, na Folha de S. Paulo de 29 de abril, entidades de Capanema lançaram uma nota de repúdio às falsificações contidas no texto assinado pela jornalista Ana Carolina Amaral. E mandaram para o jornal no dia 6 deste mês. Até ontem não tinha sido publicada. E nem resposta dada.


“Infelizmente, a “reportagem” foi feita de helicóptero e, nas nuvens, ninguém falou com o nosso povo, ninguém caminhou com a nossa gente. Assim, devemos falar para o Brasil a verdade. E a verdade é a seguinte: não temos divisão, não temos receios, a nossa estrada ecológica é parte da nossa vida. Ela vai proteger em definitivo o nosso parque nacional”, diz trecho da nota.


Na semana passada, o Jornal de Beltrão havia detectado as falhas na Folha e o viés contrário à reabertura da estrada dado pela jornalista, e mostrou isso em reportagem no dia 1º.


Há cerca de 20 dias, a Comissão de Viação e Transporte aprovou o Projeto de Lei do deputado federal Nelsi Maria Vermelho (PSD), para a reabertura dos 17,5 quilômetros que separam Capanema de Serranópolis do Iguaçu.


Agora o projeto está sendo analisado na Comissão de Meio Ambiente.


Antes, em fevereiro, o senador Álvaro Dias (Podemos) desengavetou o projeto do ex-deputado Assis do Couto (PDT), que também trata desse assunto.
Confira a seguir, na íntegra, a nota da comunidade de Capanema
*

NOTA DE REPÚDIO
Nós, moradores do Sudoeste do Paraná, repudiamos publicamente a reportagem vinculada no jornal “Folha de S. Paulo”, com o título “Parlamentares querem ‘estrada-parque’ em área com bichos ameaçados no Iguaçu”, pois a referida matéria, um amontoado de preconceitos antigos e repetidos nas redes sociais, visa a perpetuar as seguintes mentiras:
I – O povo do Paraná quer destruir o Parque Nacional do Iguaçu. O povo do Paraná é um bando de criminosos ambientais.
II – Todo o político paranaense que defende a estrada-parque é interesseiro ou está a serviço do grande capital agropecuário.
Mentiras e mentiras que ferem todo o nosso povo. Diga-se de passagem, a matéria que é baseada na intolerância e no sectarismo difundido pelas redes sociais, erra inclusive o tamanho da estrada-parque (ela sempre possuiu 17,5 Km – basta consultar o mapa viário do Paraná da década 1920).
O desejo de ferir o povo do Sudoeste e do Oeste Paraná foi tamanho que dimensionou a histórica estrada em 100 km. Pensamos que o açodamento foi proposital, para esconder a seguinte verdade: o pequeno trecho serviu como caminho indígena, o pequeno trecho serviu para pioneiros e colonizadores, o pequeno trecho precede a reserva. Por isso, a famosa Coluna Prestes utilizou o nosso caminho. 
Nós acreditamos na liberdade de imprensa! Nós queremos acreditar que a Folha de S. Paulo foi levada a erro. Nós queremos acreditar que a profissional foi induzida a engano por fontes ultrapassadas e preconceituosas, pois é inconcebível que um grande jornal brasileiro não perceba que o fundamento da luta pela estrada-parque está no resgate histórico, humano e cultural de todo um povo.
Para o nosso povo, que primeiro conservou a reserva, é espantoso ver o tom dado pela reportagem. Para nós, o parque não é local de “bicho”, mas de vida. Nós somos os primeiros, os melhores e os maiores interessados em conservar “a vida” na sua plenitude (a fauna e flora).
Além de estigmatizar todo um povo. A reportagem quer pautar o debate político. Há nas suas linhas um claro recado ideológico: quem defende a rodovia ecológica é criminoso ambiental!
Triste. Muito triste quando uma matéria agride princípios básicos do jornalismo. Por exemplo, qual cooperativa paranaense foi ouvida e falou que quer explorar a estrada-parque?
Temos orgulho das nossas cooperativas. Geram emprego e riquezas para todo o Brasil. Mas todos sabemos no Paraná: as nossas cooperativas não utilizarão a estrada-parque caminho do colono. 
Aliás, a agressão não é somente contra as nossas cooperativas, é contra os nossos esforçados agricultores. Também são direcionadas contra os nossos produtores familiares de leite.
Novamente clamamos à Folha de S. Paulo: a nossa rodovia é ecológica e não servirá a fins agropecuários.
Parem de agredir as nossas cooperativas! Parem de agredir os nossos agricultores!
E, sobretudo, não vinculem a estrada ecológica, que será caminho de vida, com o tráfico de drogas.
Além do mais, a preponderar o raciocínio da reportagem, devemos fechar a BR-277 e eliminar os nossos irmãos paraguaios e argentinos. E, depois, deveríamos, como paranaenses, seguir todos espontaneamente para o cárcere, pois nas nossas estradas podem circular drogas.
É a maldade pura. É a criminalização do nosso povo e da nossa história.
Infelizmente, a “reportagem” foi feita de helicóptero e, nas nuvens, ninguém falou com o nosso povo, ninguém caminhou com a nossa gente.
Assim, devemos falar para o Brasil a verdade. E a verdade é a seguinte: não temos divisão, não temos receios, a nossa estrada ecológica é parte da nossa vida. Ela vai proteger em definitivo o nosso parque nacional.
Nós, que caminhamos juntos como comunidade, somos religiosos, somos agricultores, somos estudantes, somos advogados, somos rotarianos, enfim, somos homens e mulheres convictos que é necessário proteger o meio ambiente.
Além disso, a ideia que devemos proteger o parque por medo de sanção da Unesco, por receio de opiniões de turistas internacionais ou por dinheiro, é chocante para nossa concepção de vida.
Nós defendemos o parque pela memória dos nossos antepassados e pelas nossas crianças. Nós defendemos o parque, pois ele é patrimônio da nossa vida e de toda humanidade.
Enfim, não somos bandidos e o nossos políticos, de todas as correntes partidárias, ao defenderem a estrada ecológica, cumprem somente o papel constitucional de defender a soberania nacional e os interesses do nosso povo.
Todos nós defendemos a estrada ecológica. Todos nós defendemos a fauna e a flora.
Nós amamos a nossa estrada e o nosso parque. Fala o poeta da triste realidade atual:

“A estrada trancada
Ninguém por ali passa
Somente quem caça.”

Nós amamos o nosso Parque! Nós amamos a nossa estrada ecológica!

Capanema, Cidade da Rodovia Ecológica, 3 de maio de 2019 (lei n° 1.677/2019)

Comissão da Cidade da Rodovia Ecológica
Associação Comercial e Empresarial de Capanema
Rotary Club Capanema
Igrejas Cristãs

Fonte: Jornal de Beltrão

Últimas Notícias